O nascimento de uma criança é sempre fonte de imensa felicidade para uma família. É a renovação da esperança. É a vida que se perpetua. E não há dúvida de que as crianças têm hoje mais oportunidades e mais condições de realizar seus sonhos do que tiveram as gerações passadas. Mas, se as oportunidades se multiplicam, também aumentam os desafios que acompanham cada nascimento.
O novo mundo de bem-estar e de oportunidades oferecido pela globalização e novas tecnologias também tornou mais tortuosos os caminhos para a formação de nossos pequenos, para a construção de seu caráter e absorção dos valores que conduzem à verdadeira felicidade. E aumentou enormemente a responsabilidade dos pais. Já não basta dar a vida, criar, alimentar e educar, como fizeram nossos pais no passado, acompanhando-nos nos primeiros anos de escola, no ingresso ao ensino superior e ao mercado de trabalho até o dia em que saímos de casa. De certa forma, havia caminhos predefinidos para escolher e seguir, dando mais segurança a cada passo, a cada degrau vencido. Hoje, a realidade é outra e os pais precisam se adequar aos novos tempos. Novos caminhos surgem a cada dia.
Muito antes de formarem seu senso crítico, muito antes de estarem preparadas para fazer escolhas, as crianças são diariamente bombardeadas por um mar de mensagens dispersas, mimos, modismos e novos aparelhos – num ambiente quase sempre tempestuoso, que as torna irritadiças e permanentemente insatisfeitas. Não há diversidade de brinquedos, roupas, alimentos, celulares e jogos eletrônicos que consiga satisfazê-las. O filme “Consuming Kids, a Comercialização da Infância” (2008) escancara essa realidade. Os pequenos estão influenciando o consumo das famílias e substituindo as brincadeiras de rua pelo computador e a TV, com consequências perigosas para sua saúde e formação.
É com esse permanente ‘quero mais’ que os pais têm de lidar, exigindo muita conversa, orientação e bons exemplos. Os ‘nãos’ têm de dar lugar à construção de uma amizade e a um diálogo transparente e franco em relação ao que cada lado considerar certo ou errado, como o controle ou não do acesso à internet e às redes sociais. Muitos acham que a criança não tem maturidade para estar na internet. Outros ponderam que não adianta proibir algo que lhes é facilitado pelo celular que carregam. A saída possível é orientar, construir e acompanhar.
O renomado autor japonês Ryuho Okawa tem um livro maravilhoso – Think BIG – O poder para criar o seu futuro (lançado em 2014 pela IRH Press do Brasil), – em que sinaliza a importância de se trabalhar o futuro da criança: “Se você deseja construir um futuro, precisa alimentar grandes sonhos em seu coração. Seus pensamentos determinam sua vida. Mas seus pensamentos precisam ser mais do que meras intenções. Cuide para que os pensamentos negativos não criem raízes. Tenha pensamentos afirmativos e positivos. Cuidado com as ideias que você planta em sua mente. Elas irão determinar o tom geral da sua vida.”
Uma dose redobrada de amor e compreensão se faz necessária por parte dos pais. Ryuho Okawa afirma que “o amor parece agir como uma forma de nutrição para a criança pequena. Quando o desejo de ser amada não é satisfeito, a criança reage, tornando-se provocadora e causando problemas aos outros”. Em uma palestra realizada no Japão, Okawa enfatizou que “a causa fundamental dos problemas da vida encontra-se na família, na infância, e muita gente chega à maturidade sem os ter superado. O modo de pensar e viver do indivíduo na infância é o ponto de partida, por isso tem um significado importantíssimo. Mas acontece que a família ideal, sem nenhum tipo de problema, simplesmente não existe. Toda família apresenta pontos positivos e negativos, toda família tem um ou outro tipo de problema”.
Proporcionar uma boa formação humana e espiritual às crianças é o grande desafio dos pais neste início do século 21. Que por meio do amor, do diálogo, da compreensão e busca de ajuda, se necessária, cada um descubra o melhor caminho para cumprir sua missão. É o que desejamos no Dia das Crianças.
* Kie Kume é gerente da IRH Press do Brasil, que publica em português as obras de Ryuho Okawa. Um dos autores mais prestigiados no Japão