É inegável que há muito tempo problemas econômicos e políticos veem minando a capacidade competitiva das empresas no país, situação significativamente agravada em período recente. Esses fatos têm sido amplamente noticiados e analisados pela imprensa. Assim, não vou focar nas questões já demasiadamente tratadas sobre este assunto, mas aproveitar o espaço deste artigo para abordar tema que também considero relevante, e que me parece, tem sido pouco explorado nas colunas econômicas: a pouca propensão das empresas brasileiras em exportar.
Talvez devido ao nosso imenso mercado consumidor, muitas das nossas organizações não se sintam atraídas, ou até mesmo, estimuladas em se inserirem em mercados internacionais – o que exige maior competitividade de produtos, de processos, de serviços e do composto produtos/serviços. Para atingir este tipo de competitividade além de recursos humanos qualificados, faz-se necessária também adequada infraestrutura das empresas e dos locais onde elas operam para o desenvolvimento, produção e distribuição de bens e serviços. Esses aspectos não são fáceis de serem alcançados, especialmente, se considerarmos os profundos problemas que nos defrontamos (caso da educação, por exemplo).
Além disso, a inserção de produtos e serviços em mercados externos impõem desafios adicionais às empresas, tais como: dificuldade de acesso a novos mercados, redes de relacionamento em outros países, diferenças de câmbio, “burocracia”, culturas diferentes, custo de transporte e de logística, dentre outros. Enfrentar estes desafios podem retirar muitas empresas de sua zona de conforto e, até mesmo, desestimular gestores que optam por atender nosso amplo território e imenso mercado consumidor interno já mencionado neste artigo. Por outro lado, são claros os benefícios às empresas que conseguem superar os desafios da exportação. Dentre estes, pode-se destacar o acesso a novos e diferentes mercados e consequente maior escala de produção, melhoria da qualidade de produtos e processos (tendo como requisito de atender a exigências de novos consumidores e de certificações do país ou bloco comercial que o produto se destina), melhoria da capacidade de inovação, maior acesso ao crédito internacional, menor dependência do mercado interno, e o fortalecimento da marca.
Sabe-se também que no atual momento econômico do país, muitas empresas têm enfrentado enormes dificuldades, e como consequências temos verificado altos níveis de desemprego e a queda no consumo. Diante deste contexto, dentre os benefícios listados acima, a menor dependência do mercado interno chama a atenção. Afinal, se tivéssemos uma maior quantidade de empresas orientadas à exportação, o país sentiria de forma menos intensa os problemas políticos e econômicos que atualmente atravessamos?
Se a resposta for sim, talvez seja o momento de também iniciarmos uma agenda que estimule uma economia mais voltada para a exportação e que, ao mesmo tempo, não seja baseada, sobretudo, em commodities. Para isso, é importante que haja apoio para que gestores e empreendedores se sintam estimulados em atuarem em mercados internacionais. Uma agenda deste tipo, além de focar em aspectos já bem conhecidos como a articulação entre as políticas de comércio exterior, de inovação e tributária, por exemplo, deve abranger também o fortalecimento de culturas organizacionais para a internacionalização. O papel de universidade e de diferentes instituições educacionais e empresariais na contínua formação destes gestores e empreendedores pode desempenhar papel um decisivo neste esforço.
Se bem realizado, os resultados deste tipo de agenda provavelmente aparecerão apenas no longo prazo. No entanto, em algum momento este debate deve ser iniciado. Se no passado já tivéssemos nos preocupados em aumentar a capacidade exportadora das empresas brasileiras, talvez muitas delas hoje sofreriam menos os impactos da recessão econômica que o país atravessa. Fica a ideia para o futuro.
*Daniel Jugend é Professor Doutor do Departamento de Engenharia de Produção da Faculdade de Engenharia da Unesp, Câmpus de Bauru.