As eleições presidências nos EUA deste ano são realmente tudo de diferente que o americano possa ter visto até hoje, o que os está deixando desnorteados. Sempre houve a tendência meio ingênua e até cínica do processo eleitoral americano de aplicar os princípios dos fundadores Pilgrims ou Peregrinos no que diz respeito à suas vidas particulares. Embora a sociedade americana em nada se pareça com isso, o americano padrão (average citizen) parece querer que seu Presidente seja um modelo de virtudes, só equiparável à Madre Teresa! Candidatos a candidatos que tenham tido ligações afetivas extra conjugais… nem pensar. Idem se não for religioso praticante, temente a D’eus, que freqüenta sua paróquia todo fim de semana, tem vários filhos, está casado com a primeira esposa (que foi sua namorada da faculdade), nunca se envolveu em escândalo nenhum – nem alguém de sua família – e tem uma carreira política sólida ou meteórica regada por um belo discurso inspirador beirando o carismático.

O grande problema que vem se arrastando e agora explodiu nas telas da política atual americana, é que este sujeito – uma mistura de Pilgrim, Founding Father (fundadores da Republica) e WASP (branco, anglo-saxônico e protestante) praticamente não existe mais e se existe quer distancia de Washington e da política. Um dos aspectos mais impressionantes do processo eleitoral americano é que mesmo sabendo disso existe toda uma procura, busca, investigação quieta, silenciosa, sorrateira até, para se procurar o mais fino fio de cabelo que possa incriminar qualquer novo candidato que surja. Ou seja – parece existir um desejo maquiavélico de que não possa existir esta figura seja na base da pirâmide – a política local – até o topo presidencial.
Com certeza, Theodore Roosevelt hoje não se elegeria por ser um desastre em termos conservação da natureza (adorava caçar!) JFK então não passaria no mais simples teste de fidelidade conjugal. Truman seria trucidado pelos seus princípios simplistas demais, sua mentalidade interiorana. Johnson pela belicosidade e favorecimento aos militares. Bush filho pela sua ‘cola’ e expulsão de Harvard e fuga do serviço militar no Vietnã e Franklin Roosevelt jamais seria re-eleito pela sua condição física de paralisia. A lista é longa.
Assim chegamos a duas semanas da eleição com um quadro eleitoral que mistura o lamentável com o deplorável. Europeus, Latino-Americanos como nós, enfim boa parte do mundo Ocidental (e pior ainda o Oriental) se perguntam como a democracia tida como exemplo (pelo menos por Hollywood) pode ter um processo eleitoral que desembocou em dois candidatos tão ruins e tão opostos a tudo que já apareceu até hoje.
Para nós brasileiros, fazendo uma comparação é realmente como se tivéssemos que optar entre um político de pavio curto, destrambelhado e fanfarrão como Ciro Gomes ou um político velhaco, calejado, conhecedor de todos os possíveis trucos sujos para chegar ao poder como Renan Calheiros. Os americanos não conseguem nem escolher o menos ruim pois a cada dia um tenta ser pior que o outro !
Trump não perde uma chance diária de dar um tiro no pé. Num dia ataca mulheres, no outro imigrantes e depois veteranos de guerra. A ultima foi o sagrado sistema eleitoral que diz ser manipulado. A campanha de Hillary agora se sabe, começou a baixaria soltando um vídeo de mais de dez anos passados onde Trump – numa daquelas conversas cafajestes de banheiro de boate ou de vestiário de clube depois do jogo, fala algo do tipo – “Não existe mulher difícil, apenas mal cantada..!” Lógico que a casa caiu para Trump. Aí o Wikileaks capitaneado por Putim está soltando a cada dia mais e mais e-mails secretos e ‘desaparecidos’ de Clinton (são só 30 mil…) que mostram uma candidata sem escrúpulo nenhum desde quando era advogada, pressionando e ameaçando as mulheres que o marido assediava sexualmente ou estuprava – e o uso da Fundação Clinton que até outro dia pedia dinheiro até para o Rei do Marrocos para sua campanha em troca de favores no Congresso (e no Haiti)! O que é pior é o envolvimento do Departamento de Estado, FBI (que arquivou processo dos e-mails de Clinton) do Departamento de Justiça (que fechou os olhos para a inelegibilidade de Clinton) – todos espertamente mais quietos que coruja na calada da noite.., rezando para dar Clinton e não haver uma limpeza se der Trump.
O fato sem precedentes é que Trump luta – certo ou errado – contra não só o sistema como contra a mídia. Esta que deveria ser imparcial, já chutou faz tempo o pau da bandeira: O New York Times (Madre Teresa da imprensa americana) declarou apoio a Clinton e apareceram e-mails onde repórteres e editores trocam informações com a campanha. Idem para o Washington Post , Político e dezenas de outros pegos com a mão dentro do pote. A CNN teve uma de suas ‘influentes’ comentaristas Donna Brasile (se pronuncia Brasil….que sina!) mandando e-mails com perguntas do debate para a campanha Clinton … antes do debate!
Como se diz no Brasil… Ficou Difícil! Se de um lado o americano quer mudar o governo e tem raiva do big business que Clinton representa e a big mídia que a apóia, do outro as mulheres americanas, os hispânicos e muçulmanos não conseguem nem imaginar alguém como Trump na Casa Branca. Para os militares, Clinton abandonou sem resposta os pedidos do Pentágono para ajudar em Bengazi os três americanos e o Embaixador Americano que acabaram mortos. Trump por outro lado lembra Regan embora seja meio amigo demais de Putim, que ele jura não conhecer, mas admira. E não é para menos: Putim é um mestre – enquanto mantem Obama na campanha ajudando a salvar Clinton dos Wikileaks, ele apóia Assad, bombardeia a oposição, toma Aleppo e metade da Síria. Nada mal…
Para acabar de azedar o menu, nessa dedicação 7×24 de Obama e sua mulher, a Clinton, eles esqueceram não só a política internacional como a Casa Branca, Medicare, Imigração, Orçamento Publico, descendo a borracha em Trump sem aquela ‘finesse’ que sempre se esperou de um Presidente e sua Primeira Dama. O motivo é simples: Obama foi bom de discurso e péssimo de realização, sobrando para ele agora apenas a façanha de fazer seu sucessor e talvez conquistar o Congresso novamente para os Democratas. É seu ‘last hurrah’ ou sua ultima chance de herança histórica.
Resumindo a opera: É bem provável que dê Hillary. Não impossível que dê Trump. Qualquer um dos dois será um desastre assim como Ciro e Renan seriam para o Brasil… com a diferença que trata-se de uma realidade e nos EUA e não apenas um sonho ruim tupiniquim.

*Roberto Musatti
Economista (USP) Mestre em Marketing (Michigan State)
Doutorando (CIBU-Neils Brock-San Diego)
Professor das Faculdades REGES.