A administração pública deve seguir um valor: o bem comum. Considerada sua compartimentação em competências e atribuições, o valor a inspirar o eleitor numa eleição municipal é o bem comum do respectivo município; é certo que esse valor, em se tratando da megalópole de São Paulo, é inatingível a curto e médio prazo, dada sua imensidão, que desborda de todos os parâmetros geopolíticos das concentrações urbanas, segundo padrões internacionais. Ocorre que não podemos demolir São Paulo; não podemos tirar seus negócios, sob pena de legado de uma fantasmagoria de cimento armado. Portanto, é necessário um plano de soluções, começando imediatamente pelo lançamento de suas sementes.
O que tivemos sob o ângulo das opções eleitorais? Duas candidatas que já conduziram, sem sucesso, nossa cidade; e não podemos atribuir os cruciais problemas brasileiros do momento exclusivamente aos dois últimos governos federais e à congênita corrupção disseminada pelo infeliz Partido dos Trabalhadores. De resto, ambas foram suas exponenciais representantes, e a tempestade perfeita que enfrentamos é resultante de todos os atos políticos desse Partido, desde seus primeiros passos. Pode-se dizer que a experiência ensina, mas o uso do cachimbo, amiúde, deixa a boca torta.
O candidato que liderou inicialmente as pesquisas de intenção só sobreviveu na vida pública por leniência da OAB, desde seu Conselho Federal até os Conselhos Secionais. Com efeito, agride fundamente o sistema ético da advocacia fazer acordos em litígios sob câmeras de televisão, inclusive expondo realidades íntimas dos contendores, que somente interessam a eles, seus advogados e juízes. Expor as mazelas alheias na televisão é incivilidade incompatível com a postulação de um cargo público eletivo.
O ex-Prefeito, pretendente à reeleição, segundo um colega de partido em programa de programa de televisão, foi muito “zen” em suas intervenções eleitorais. Ninguém pode exigir que deva mudar sua personalidade, mas seu destino foi bem traçado; uma cadeira acadêmica. O estilo Mahatma Gandhi, que, por sinal, não era “zen”, serviu a uma parte do mundo conflituosa, em que um lorde britânico fracionou em dois, sobre um mapa indiferente, uma nação, que se engalfinhou em violências inomináveis: sua missão foi a de unir e não a de governar.
Racionalmente, a única opção foi a adotada pelo povo de São Paulo. Voltando-se à teoria dos valores políticos, espera-se de um prefeito que caminhe a solucionar questões locais e urbanas. Na complicadíssima capital paulista, todos as conhecemos: a saúde que cabe à administração municipal, a educação, a mobilidade urbana, o reflorestamento de uma área completamente sucateada etc. São medidas que complementam ações positivas diretas de justiça social, situadas num contexto de democracia amplificada, voltada para o melhoramento das condições materiais de vida da maioria do povo em clima de liberdade legal irrestrito. Essa racionalização edificante da megacidade que se formou no planalto de Piratininga plasmou a intuição dos eleitores, de modo tão claro que não se deu ensejo a um segundo turno.
*Amadeu Roberto Garrido de Paula, advogado e poeta. Autor do livro Universo Invisível e membro da Academia Latino-Americana de Ciências Humanas.