A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou neste domingo (8) um manual de orientação para médicos, pais, educadores, crianças e adolescentes. O foco é a “Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital”. O documento inédito no País foi inspirado em estudos e recomendações internacionais e adaptadas à realidade nacional. O trabalho foi elaborado pelo Departamento Científico (DC) de Adolescência da SBP, sob coordenação da dra Evelyn Einsentein, professora de Pediatria e Clínica de Adolescente e coordenadora de disciplina de Adolescência da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do R io de Janeiro (Uerj), a pedido da Presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, dra Luciana Rodrigues Silva, O interesse foi despertado em virtude da atualidade do tema e da necessidade de se oferecer orientações ainda este ano, nos primeiros meses da sua gestão. 
No texto, são abordados os principais problemas ligados ao uso excessivo da tecnologia por crianças e adolescentes. Entre as consequências, estão o aumento da ansiedade, a dificuldade de estabelecer relações em sociedade, o estímulo à sexualização precoce, a adesão ao cyberbullying, o comportamento violento ou agressivo, os transtornos de sono e de alimentação, o baixo rendimento escolar, as lesões por esforço repetitivo e a exposição precoce a drogas, entre outros.  Todos com efeitos danosos para a saúde individual e coletiva, com graves reflexos para o ambiente familiar e escolar.
De acordo com a SBP, estudos científicos comprovam que a tecnologia influencia comportamentos através do mundo digital, pela adoção de hábitos, muitos deles inadequados desde os primeiros anos da infância. Há algum tempo, este tema tem ocupado espaço nas discussões na entidade, preocupada com a melhor orientação ao pediatra no atendimento de seus pacientes e familiares. 
INTOLERÂNCIA E ÓDIO NA INTERNET – O documento da SBP se baseou em quase 30 pesquisas científicas nacionais e internacionais. Entre elas está o levantamento Tic Kids Online – Brasil de 2015, realizado pelo Comitê Gestor da Internet (CGI) e pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade de Informação (Cetic.br).  Esse trabalho mapeou o perfil e os hábitos das crianças e adolescentes com acesso à internet no Brasil, inclusive com questões sobre intolerância e discurso de ódio. 
A Tic Kids Online 2015 entrevistou mais de três mil famílias de 350 municípios das cinco regiões do Brasil. Foram ouvidas crianças e adolescentes com idades de 9 a 17. Os dados mostram que oito em cada dez crianças e adolescentes nesta faixa etária usam a internet com frequência, o que representa 23,7 milhões de jovens em todo o País. Para este grupo, o telefone celular se tornou o principal dispositivo de acesso (83%), seguido dos computadores de mesa, tablets ou computadores portáteis ou consoles para videogames. 
De acordo com o estudo, uma em cada três crianças e adolescentes usuárias de internet (37%) declarou ter visto alguém ser discriminado na Internet no último ano – o equivalente a 8,8 milhões de jovens. 
DIÁLOGO E VIGILÂNCIA – Conversar sobre as regras de uso da internet, sobre o nível de segurança e privacidade e sobre nunca compartilhar senhas, fotos ou informações pessoais ou se expor a pessoas desconhecidas, também fazem parte das recomendações do Manual de Orientação “Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital”. Os pediatras também incentivam os pais e cuidadores a monitorar os sites, programas, aplicativos e vídeos que crianças e adolescentes acessam, visitam ou trocam por mensagens, sobretudo nas redes sociais. 
Também é recomendado o diálogo sobre valores familiares e regras de proteção social para o uso saudável, crítico e construtivo das tecnologias, enfatizando a relevância ética de não postar qualquer mensagem de desrespeito, discriminação, intolerância ou ódio. Sob o ponto de vista técnico, a instrução é para que sejam utilizados antivírus, antispam, softwares ou programas que sirvam de filtro de segurança e monitoramento para palavras, categorias ou sites. “Alguns até restringem o tempo de uso de jogos online e o uso de aplicativos e redes sociais por faixa etária”, cita o documento. 

PARA PAIS
Verificar a classificação indicativa para games, filmes e vídeos e conteúdos recomendados de acordo com a idade e compreensão de seus filhos;
Estabelecer regras e limites bem claros sobre o tempo de duração em jogos por dia ou no final de semana e sobre a entrada e permanência em salas de bate-papo, redes sociais ou durante jogos de videogames online;
Discutir francamente qualquer mensagem ofensiva, discriminatória, esquisita, ameaçadora ou amedrontadora, desagradável, obscena, humilhante, confusa, inapropriada ou que contenha imagens ou palavras pornográficas ou violentas;
Recomendar aos seus filhos que nunca forneçam a senha virtual a quem quer que seja, nem aceitem brindes, prêmios ou presentes oferecidos pela Internet, assim como também jamais ceder a qualquer tipo de chantagem, ameaça ou pressão de colegas ou de qualquer pessoa online;
Lembrar sempre que você como adulto, pai ou mãe, e, com a convivência diária, se torna um modelo de referência para seus filhos. Portanto dar o primeiro exemplo: limite o seu tempo de trabalho no computador, quando em casa. Desconectar e estar presencialmente com seus filhos.