No último dia 8, aconteceu o que poucos esperavam: Donald Trump, do Partido Republicado, foi eleito presidente dos Estados Unidos da América. Depois de uma campanha bastante disputada com a candidata democrata Hillary Clinton, a qual era apontada pelas pesquisas de intenção de voto como à frente na corrida eleitoral, o empresário logrou a vitória ao atingir a maioria dos colégios eleitorais.

Com base no discurso adotado por Donald Trump durante a campanha, é possível afirmar que esta eleição norte-americana trouxe grandes preocupações para o México. Propostas como a construção de um muro fronteiriço, que deveria, na opinião do candidato, ser pago pelo México, o discurso preconceituoso e intolerante com relação aos imigrantes e a proposta de renegociação do NAFTA e dos mega-acordos regionais impactam diretamente a relação bilateral entre os países. Ainda é difícil falar quais serão as consequências para tal relação no curto e médio prazo, o que justamente vai depender do que de fato o candidato eleito implementar.

Assim, mesmo diante da incerteza associada à vitória de Donald Trump, os periódicos mexicanos já falam em efeitos negativos. Por mais que o muro não seja construído ou o NAFTA não seja renegociado, a eleição de Trump mostra que seu discurso agressivo possui bases em parcelas da sociedade norte-americana, o que indica o preconceito com relação aos imigrantes residentes nos EUA e também pelos próprios cidadãos do México. Inclusive, em campanha, Donald Trump chegou a afirmar que os mexicanos roubam os postos de trabalho dos estadunidenses. A critério de nota, é importante destacar que só mexicanos, estima-se que haja cerca de 35 milhões residentes nos Estados Unidos, o que se configura como a maior comunidade hispânica do país.

Como efeito imediato, na madrugada da contagem de votos, o peso mexicano chegou a desvalorizar 13%. A moeda já vinha sofrendo instabilidade com o aquecimento da campanha eleitoral, mas passara por relativa estabilização quando Hillary Clinton vinha sendo apontada como vencedora nas pesquisas. É importante destacar que a desvalorização monetária tem efeitos financeiros e comerciais importantes, o que pode refletir diretamente no crescimento econômico do México.

Em declaração oficial realizada ontem, dia 9, Enrique Peña Nieto afirmou que começará a ser discutida uma nova agenda conjunta entre o candidato eleito e o México, a qual marca o estabelecimento de um “novo capítulo” na relação bilateral. Para o mandatário mexicano, o diálogo é a base para o estabelecimento de uma relação de cooperação, segurança e prosperidade entre as nações. Ademais, destacou a importância dos mexicanos residentes nos EUA para o desenvolvimento do país e, portanto, o caráter de interdependência das relações bilaterais, principalmente no campo econômico e social. Por sua vez, a chanceler mexicana, Claudia Ruiz Massieu, reiterou que nos próximos meses serão discutidos os elementos de referência da relação bilateral com o novo presidente dos EUA. No que tange à proposta de Trump de construção de um muro fronteiriço, a Secretaria afirmou que “está fora da visão do México” pagar por ele, já que o país adota como postura a integração e a possibilidade dos dois países trabalharem juntos.

Assim, as declarações indicam a tentativa da diplomacia mexicana em buscar pontos de convergência com os Estados Unidos neste novo cenário que se mostrará vigente a partir do próximo ano. Diante da dependência mexicana em relação ao vizinho, faz-se necessário entender-se com Donald Trump, ainda que pareça um grande desafio. Deve ser destacado que tanto o presidente, quanto a chanceler, colocou que é um momento de discutir os marcos desta relação, já assumindo que haverá grandes possibilidades de mudanças.

Por último, por mais que o México tenha sido citado por Donald Trump de forma bastante negativa durante a campanha, ele é um país que não pode ser ignorado pelos Estados Unidos. Não é possível afirmar que o México seja prioridade para a inserção internacional dos EUA, mas também não é, nesse sentido, um ator insignificante. Além dos fluxos comerciais, os dois países compartilham fronteira com dimensões sociais e de implicações para a segurança nacional da grande potência. Por si só, esse é um elemento que deve garantir algum entendimento mútuo, ainda que pouco contemple os interesses estratégicos da política externa do México para com os Estados Unidos.

 

*Marcela Franzoni é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP e PUC-SP) e pesquisadora no Núcleo de Estudos e Análises Internacionais (NEAI) e no Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais (IEEI).