A mídia israelense e internacional noticiou no dia 19 de dezembro de 2016 que o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, teria doado o montante equivalente a dez mil dólares para instituições israelenses localizadas nos assentamentos judaicos na Cisjordânia em 2003, as comprovações dessas doações surgiram no domingo, 18 de dezembro. A doação aparece nos documentos do imposto de renda da fundação de Donald Trump referentes a 2003. Sua fundação realizou um total de mais 185 mil dólares em doações de caridade no mesmo ano, para cerca de quarenta instituições, sendo uma delas a Beit El, uma comunidade judaica na Cisjordânia.
A doação também foi discutida em uma entrevista na estação de rádio Galey Israel com os colonos no domingo (18). Katz, um dos fundadores de Beit El, disse em entrevista que a doação foi feita em homenagem ao advogado e amigo de Trump, David Friedman, que ele escolheu como o próximo embaixador dos EUA em Israel. Friedman atua como presidente da instituição Amigos Americanos de Beit El, que arrecada cerca de dois milhões de dólares por ano para projetos e instituições nos assentamentos israelenses na Cisjordânia.
Por conseguinte, a questão vai além do montante doado, representa um posicionamento claro de Donald Trump em relação ao conflito entre Israel e Palestina, concretizado pela escolha de David Friedman, um aberto apoiador da ocupação da Cisjordânia, como o embaixador estadunidense em Israel. Com a nomeação de David Friedman na última quinta-feira (15) e a divulgação da doação feita ao assentamento Beit El, os Estados Unidos de Trump deixam mais claras as linhas que serão seguidas na política externa para Israel. De agora em diante, apoia o estabelecimento de um Estado segregacionista israelense entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão.
David Friedman não é o primeiro embaixador judeu em Israel, mas ele é o primeiro apoiador declarado dos assentamentos nesta posição. Seu antecessor, Dan Shapiro, não questionava os assentamentos, como todos os embaixadores que o precederam, mas não incentivava, como Friedman o faz. Isso significa que os Estados Unidos não serão mais capazes de afirmar que são um mediador honesto e imparcial para o conflito entre Israel e Palestina.
De fato, podemos argumentar que nunca foram, mas agora a defesa dos Estados Unidos nessa posição fica muito difícil de ser feita. Nesses termos, a nomeação de Friedman é certa e clara sobre as intenções estadunidenses na região.
Algumas perguntas ainda restam a serem feitas sobre a questão: o governo dos EUA e o Senado entendem o significado das opiniões do novo enviado? Compreendem que ele é a favor do estabelecimento de um Estado segregacionista apoiado e financiado pelo país que é o líder do mundo livre? Os israelenses de direita, que apoiam a anexação da Cisjordânia a Israel, podem até encobrir seus planos escondendo seu verdadeiro significado, entretanto esse não é o caso do representante do país mais poderoso do mundo.
Todavia, assim como na campanha eleitora para a Casa Branca, Trump não tem intenção de seguir as regras tradicionais. Quer intencionalmente ou não, Donald Trump está indicando que ele não presta atenção aos costumes e precedentes, e que ele é suscetível de surpreender o mundo todos os dias de seu mandato.
*Mestranda em Relações Internacionais