De todos os líderes de Estado dos últimos cinquenta anos, poucos causam tamanha divisão de opiniões como o antigo líder cubano, Fidel Castro, falecido na última sexta-feira. Em 1953, ao ser julgado por uma tentativa fracassada de tomar o poder de Fulgencio Baptista, Castro declarou “a história me absolverá”. Mesmo que a Revolução Cubana tenha sido vitoriosa em 1959, a história ainda está dividida sobre os fracassos e sucessos do político caribenho.
Não há dúvidas de que o regime de Fidel Castro logrou sucesso em várias áreas relevantes, como a saúde pública, educação básica, moradia digna para todos os habitantes, mesmo com pesadas sanções econômicas e bloqueios que recaíram sobre Cuba desde o estabelecimento do governo revolucionário. Por outro lado, deve ser notado que o sistema unipartidário e os problemas com a liberdade de expressão são argumentos fortes utilizados por opositores ao regime.
O autoritarismo instalado em Cuba é um dos grandes problemas observados por Organismos Internacionais de proteção dos Direitos Humanos. Muitos imigrantes cubanos veem o regime de Castro como um sufocador de liberdades individuais e um limitador econômico, devido ao pouco avanço da ilha no comércio internacional.
Grande crítico da globalização, à qual atribuía a um expansionismo dos EUA, Castro foi uma inspiração a vários movimentos de esquerda latino-americanos. A vitória e manutenção do socialismo inflamou vários movimentos e partidos de esquerda na região. Uma união contrária aos interesses das grandes potências, segundo o líder cubano, fortaleceria a região, econômica e politicamente. Essas declarações, no entanto, pioraram as relações com os Estados Unidos, que apenas voltaram a tratar com Cuba após a saída de Fidel Castro do poder.
São poucos os homens de Estado do mundo que conseguem criar em torno de si uma grande unanimidade sobre a sua herança histórica. As contradições giram em torno de vários políticos, de diferentes países e ideologias, sobre qual a marca que deixaram no mundo. Fidel Castro é um grande exemplo dessa divisão. Entre os grandes admiradores dos resultados apresentados e os que buscam maior justiça social e democracia para Cuba, não há dúvidas que o líder cubano não passou desapercebido do mundo. A absolvição histórica que o então guerrilheiro chamava sobre si, porém, não aconteceu, e tampouco deve ser esperada para os próximos anos.
*Professora do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Internacional Uninter.