Foi só o governo encaminhar um documento, tipo “colcha de retalhos”, tipo “Frankenstein”, cheio de cacos e pegadinhas, e chamar de “Reforma da Previdência” que os abutres de plantão intensificaram as propagandas enganosas sobre as vantagens de uma previdência complementar privada. Reforma exigida por um mercado ávido em lucros e dividendos. E que se dane o povo brasileiro…

Na realidade, diante das insistentes afirmações do presidente Temer e dos seus sinistros ministros de que a Previdência pública iria acabar, diante de uma realidade temerária de uma aposentadoria ridícula, diante do fato de que 70% das aposentarias do INSS não passam de um salário mínimo, diante do sequestro do dinheiro da Previdência pela DRU, diante da liquidação do Ministério da Previdência, diante da omissão da Receita Federal que não fiscaliza, não arrecada, favorece os caloteiros com sonegações, renúncias, desonerações e Refis, inviabilizou-se, por algum tempo, a Previdência pública no país.
A corrida ao ouro dos planos de previdência mostra que 13 milhões de brasileiros, por falta de horizontes e perspectivas, já fugiram do INSS para os planos que acumulam ativos de quase R$ 700 bilhões, aproximando-se dos ativos do fundo de pensões. Os recursos de ambos, quase 1 trilhão e 400 bilhões, são utilizados pela política fiscal com uma avidez extraconjugal!
A proposta de reforma apresentada tem o jeitão de um “Frankenstein” brasileiro, elaborada por um técnico do IPEA, que não ouviu nenhum técnico do INSS, que é quem verdadeiramente entende de Previdência. Aliás, por se encontrar na torre da Fazenda, esnoba o INSS…
Na “defesa da reforma”, que tem cara e coração de Frankenstein, os gráficos, tabelas, números e projeções, apresentados nos diversos meios de comunicação são elaborados por técnicos, terceirizados, gente com PHD e MBA em generalidades, ligados aos bancos e seguradoras que há anos sonham em ampliar sua presença no mercado de Previdência, graças aos desmantelos dos fundos de pensão estatais e ao desmanche progressivo do INSS.
Tentaram nas diversas reformas, constitucionais e infraconstitucionais só reduzindo direitos sociais, mais de 100 nos governos FHC, Lula e Dilma – e obtiveram algumas vitórias, como o empréstimo consignado que endividou milhares de aposentados e pensionistas. Antes do tal consignado, nenhum aposentado ou pensionista devia um centavo aos bancos e tamboretes. Hoje devem quase R$ 100 bilhões…
Não somos contra reformar, somos contrários a exploração do pobre do aposentado que já foi roubado com a implantação do famigerado “fator previdenciário”.
Não somos contra a reforma, queremos uma discussão maior com a população de mais de 203 milhões de brasileiros, 5 milhões de empresários,106 milhões de brasileiros que estão na População Economicamente Ativa, os 12 milhões de desempregados, os 60 milhões de segurados contribuintes e os 33 milhões de segurados beneficiários, aposentados e pensionistas.
Não queremos uma reforma de um só, elaborada pelo IPEA que entende de números, gráficos, tabelas etc, mas se esqueceu do eixo ou vetor principal da reforma: o financiamento, como se esqueceu de arrumar a Previdência dos militares da União, dos Estados e dos municípios, de arrumar a previdência do rural, do judiciário e do legislativo.
Somos contra a reforma, feita por senadores e deputados, sem moral, comprometidos pela corrupção e que votam, nas madrugadas, em troca de verbas parlamentares e partidárias.
Só para lembrar, certamente todo parlamentar tem um aposentado ou pensionista na família, pai, mãe, irmãos, esposa, cunhados, primos, etc. Recomendo ouvi-los. Não embarque neste novo avião boliviano, sem combustível…

*Vice-presidente executivo da Associação Nacional dos Servidores da Previdência e Seguridade Social (Anasps).