Por mais incrível que pareça Brasil e os EUA neste ano que passou se colocaram na mesma panela, por assim dizer, em função dos seus acontecimentos políticos. A única diferença foi o modo como chegaram à atual e igual desunião social e política, igual até no resultado, pois em ambos os países a dita esquerda – liberal nos EUA e trabalhista sindical no Brasil – foi botada a escanteio seja pelo voto da maioria silenciosa ou pelo clamor das ruas em processos também dolorosos em ambos os países com resultante e lamentável inconformismo dos perdedores.
Já fazia décadas desde que Nixon e Kennedy disputaram a Casa Branca, que não se via a polarização tão intensa nas eleições americana com qualquer um dos lados que acabasse perdedor achando motivos para “deslegitimizar” a vitória do outro. Talvez a única diferença seja que Trump, em uma das características que o levou a vitória, já havia avisado abertamente que o faria se perdesse, algo que os democratas, inclusive o Presidente, cinicamente criticaram, mas agora o fazem despudoradamente.
Em retrospecto, que sempre é mais fácil, confortável e seguro, Hillary foi derrotada porque se esqueceu do eleitor e suas prioridades e Trump não só lembrou como os paparicou até o ultimo dia. Dizer que Hillary ganhou no voto popular é esquecer a intenção do processo eleitoral americano, tanto elogiado por ela e seu Presidente antes da derrota, que é de evitar que apenas um ou dois estados sejam responsáveis pelo resultado da eleição. Assim se tirarmos na costa oeste a Califórnia onde Hillary venceu por cerca de três milhões de votos e Nova York na costa leste, no resto do país o eleitorado deu uma surra nos democratas que eles não poderão esquecer tão cedo, não apenas para a Casa Branca como para o Senado, a Câmara dos Deputados, Prefeitura e vereadores. Algo como a débâcle do PT nas ultimas eleições.
O que Hillary e os democratas esqueceram nos eleitores é que eles votam com o bolso e ele estava vazio às vésperas deste natal, pelos juros altos, pelo alto custo do seguro saúde, pela redução dos salários após a crise de 2008, pela perda das casas nesta mesma crise e pela distancia que Washington e a Casa Branca mantiveram desses problemas, preocupados com a globalização, os acordos comerciais internacionais e o geopoliticamente correto de não intervencionismo nas crises da Criméia, Síria, Iêmen, Ucrânia até o afago final ao regime cubano dos irmãos Castro.
A perda da competitividade da indústria americana nos sempre incrementais déficits da balança comercial, tinha que resultar em desemprego nos estados industriais do Meio-Oeste, fora do radar tanto de Washington como de Hillary em oferecerem soluções, tornou o bordão de Trump uma sinfonia para os ouvidos da classe media trabalhadora de Michigan, Pensilvânia, Ohio, Wisconsin – estados tradicionalmente democratas cujos eleitores passaram para lado de Trump. A desastrosa política externa de Obama e Clinton em suas visões liberais de esquerda irritou também a comunidade cubana e solidariamente a hispânica de Porto Rico liberando a Florida também para Trump.
Obama fez vários pecados capitais nos doze meses que antecederam as eleições. Abusou da arrogância ao satirizar e humilhar Trump mais de uma vez em publico e nos comícios de Hillary – jamais considerando que ele pudesse ser candidato, muito menos eleito, algo não compatível com seu cargo ou com a tradição de seus antecessores. Bem semelhante ao Brasil, colocou a maquina publica ao serviço de Hillary, também algo inusitado, pressionando o Departamento de Justiça e o FBI para relevar as ilegalidades cometidas pela candidata democrata e a Fundação Clinton.
Hillary e os democratas pecaram por usarem táticas mais usuais das eleições brasileiras, mas odiadas pelos eleitores americanos. Trapacearam para eliminar Bernie Sanders seu opositor no partido, idem nos debates obtendo antecipadamente da organizadora CNN as perguntas que seriam feitas. Enviaram arruaceiros para causar violência nos comícios de Trump. Desmentiu em encontro privado com banqueiros brasileiros o que havia dito horas antes em comício… todos fatos que quando vieram a tona com o Wikileaks, resultaram na virada do eleitorado.
Com isso hoje os EUA hoje se mostra um país dividido como há muito não se via. A mídia local liberal apesar de pega ‘com a boca na botija’ continua seus ataques a Trump de um modo que nunca fez a Obama. Se junta ao coro democrata mau perdedor que tenta derrubar Trump até antes da posse, divulgando noticias falsas de dossiês russos sobre Trump, suas finanças e escândalos sexuais, de hackers russos nas urnas, de Putim fornecendo dados ao Wikileaks… O país agora tem de um lado a populosa classe media conservadora, trabalhadora do centro do país e do outro os liberais da imprensa, artes e academia das duas costas. Dias após as eleições, demonstrações explodiram em vários campus universitários contra a validade das eleições, Merril Streep ao ser agraciada no premio Golden Globe preferiu substituir seu discurso de agradecimento por um ataque piegas e falso a Trump onde até Bárbara Streisand, se solidarizou dizendo “não sei como irei sobreviver os próximos 4 anos!”
Obama é ótimo de palanque e oratória e com isso criou expectativas que não cumpriu especialmente entre os afro-americanos devidamente capitalizados por Trump como parte dos ‘esquecidos por Washington’. Seu dito carisma ruiu na sua egocêntrica luta para deixar um legado após a vitória de Trump quando não seguiu a tradição de ajudar na transição de poder e não evitou decisões políticas de longo prazo, fazendo o oposto: apunhalou Israel na ONU por rixa e vingança a Netanyahu, quer libertar quase todos os presos de Guantanamo, proibiu exploração de petróleo em novas áreas até no Alaska, revogou a política imigratória especial dos cubanos e foi ao Congresso pessoalmente pedir aos democratas que procrastinem, mesmo em minoria, para defender seu ‘Obamacare’.
O radicalismo mau perdedor da esquerda liberal (com seguidores na mídia brasileira também como Caio Blinder) já causam estragos – assistir a Fox News é ser racista, de direita, até fascista e a festa de inauguração de Trump teve dificuldades em achar artistas, receosos do boicote a suas carreiras. Impensável o pedido de demissão do reitor da Faculdade de Talladega no Alabama, a mais antiga afro-americana do país, que aceitou que sua famosa banda tocasse em Washington na inauguração. É a volta do ‘McCartismo’ do após guerra, só que de cabeça para baixo. O inconformismo mau perdedor por parte de Obama, de grande parte da mídia, de Hollywood e da academia são hoje o maior empecilho a uma boa gestão de Trump, que, entretanto mostra pele de couro e rebate na lata como fez com o repórter da CNN ao vivo, em cores para todo o planeta na sua ultima coletiva.
Wall Street, Detroit, Miami, o agronegocio e o cinturão do aço do Meio-Oeste estão apostando em Trump. Michael More, Hollywood, CNN, a Universidade de Columbia e tresloucados semelhantes apostando contra… Quem vencerá?
Vai ser interessante ver essa mini-serie!
*Economista e professor das Faculdades REGES.