Sabe aquela frase frequentemente vociferada quando uma mulher retorna para o marido-agressor, e dizem que se trata de “mulher que gosta de apanhar”? Esta discorre de uma manifestação cultural condenatória que muitas mulheres são alvo, e sua reprodução só faz com que se revitimize a agredida.
Basta olhar para trás, e ver que ao requerer o divórcio de um casamento fracassado e por vezes violento, a mulher era considerada volúvel e promiscua. Em tempos atuais, ainda se trata de um assunto tenso em alguns setores, tal como o religioso, porém, há de se reconhecer que a aceitação social e por fim, os trâmites legais estão bem mais democráticos e solidários.
A lei Maria da Penha (lei nº 11.340/2006) é marco histórico no Brasil no que se refere à proteção social da mulher e sua família contra a violência doméstica. Em 2016, completou 10 anos de existência, e durante este tempo é sensível às mudanças de percepção cultural acerca da violência contra a mulher, que vem sendo constantemente discutido.
De assunto privado, a questão se tornou pública, ajudando a entender o complexo fenômeno que é a violência, e que dela se resulta situações difíceis, tal como a decisão de mulheres vítimas de agressão, que voltam para seus companheiros na esperança de que seja diferente.
Poucos, fora do contexto de pesquisa, acadêmico, jornalístico ou que trabalham diretamente com a questão, tem a oportunidade de saber que há estudos sobre o ciclo da violência doméstica, no qual se inicia pela violência verbal, emocional, em que o agressor, aos poucos derruba a autoestima da vítima, instalando a insegurança e a vulnerabilidade. A partir daí, começam as agressões físicas como empurrões, tapas, seguidas do aumento no grau de violência, que com o recrudescimento faz com que a vítima reaja a toda a situação.
Entretanto, antes que ela se liberte o agressor a procura pedindo desculpas, fazendo juras de amor e afirmando que irá mudar. Com um voto de confiança, o casal volta, e este momento é denominado Lua de mel, no qual o agressor se autocontrola, porém, a situação é passageira e as agressões retornam para a vida cotidiana do casal. Iniciando novamente o ciclo da violência doméstica.
Esta situação causa consternação, mas, ocorre porque as ligações, amarras e sentimentos não são facilmente rompidos e podem envolver a constante presença da ameaça, da dependência financeira, da falta de apoio familiar e comunitário, do sofrimento dos filhos, a insegurança quanto ao futuro, à dor de ver um relacionamento desfeito, entre outros motivos. Fazendo deste, um momento de profundo sofrimento.
Em vista disso, o empoderamento da mulher é essencial para romper este ciclo, mas não basta, é preciso compreender que o enfrentamento da violência contra a mulher não se resume apenas na tomada de atitude por parte da agredida, já que, da mesma forma está atrelada visceralmente a atitude ética de todos os indivíduos da sociedade se posicionarem ao lado das vítimas e não de seus agressores.
*Formada em Serviço Social pela UNESP