Os brasileiros tiveram contato com esse movimento, conhecido por “”black bloc””, nas manifestações que se iniciaram em junho de 2013, com o fim de discutir o aumento das tarifas de transporte coletivo, e que foi tomando o país e continuou até o encerramento do processo de impeachment da presidente em agosto de 2016. 

A característica principal deste movimento de desordem é participar das ações com os rostos cobertos, por um tecido preto, para que a identificação, de cada um dos participantes, não seja conhecida e que, dessa forma, tudo possa ser feito sem que haja a possibilidade de penalização pelos usuais descumprimentos das leis.
Estamos vivendo esta mesma situação na internet e principalmente nas redes sociais que viraram uma fonte inesgotável de boatos com objetivos de denegrir a imagem das pessoas, através de um triste humor negro e, principalmente, de perfis falsos para dificultar a identificação e poderem, assim, escrever e compartilhar o que bem entenderem agredindo e denegrindo a imagem de muitas pessoas em todos os aspectos, de todas as idades, e com todos os objetivos. Estamos em um processo de involução social onde se confunde a liberdade de expressão com o desrespeito aos cidadãos com muitas mentiras, boatos e calúnias como se a internet fosse terra de ninguém e como se tudo seja permitido dizer, escrever sem ser responsabilizado. Como estão se multiplicando as atitudes, a cada momento se torna mais difícil iniciar um processo de responsabilização pelos atos destes black blocs digitais.
Calúnias e injúrias sempre estiveram presentes na sociedade, mas no passado tinham cara e nome. Hoje, muitas vezes, não passa de um perfil falso na rede social que, em algumas horas, pode destruir a imagem de crianças e adultos com boatos e mentiras.
A lei sancionada em abril de 2014 estabeleceu princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet, responsabilizando os usuários pelas suas atitudes, entretanto, com a massificação e a popularização do uso da rede, a velocidade da justiça não acompanha o dinamismo digital e, portanto, muitas pessoas têm sofrido.
Os boatos sempre existiram, mas hoje a velocidade com que se espalham é típica do século 21, por isso todos precisam ser críticos ao lerem notícias ou histórias, principalmente checando a origem, e é nesse momento, quando todos acreditavam que os veículos da mídia tradicional estavam com os dias contados, que aparecem com uma importância e responsabilidade ainda maior.
Eu acredito apenas em publicações vindas através destes veículos, mas não é assim para a maior parte da população, que muitas vezes contribui no compartilhamento da notícia, seja pelas redes sociais ou aplicativos de comunicação, criando e espalhando tantas bobagens que o tempo, cada vez mais escasso, deixa de ser utilizado de maneira útil para si e para os outros.
Isso sem falar em grupos que planejam assaltos, pedofilia e diversos outros atos criminosos se aproveitando da “”proteção de identidade”” para cometer crimes e infrações.
Já existem formas de se conhecer e confirmar a identidade de pessoas por trás das máquinas, a certificação digital já é utilizada por muitas pessoas com objetivo de assinaturas digitais, envio de documentos e diversas outras ações.
Talvez o caminho para melhorar o nível de debate nas redes sociais e desincentivar criminosos digitais a usar esse “”tecido escuro”” protegendo a sua identidade seja, de alguma forma, todos termos a certificação digital utilizada em todas as redes sociais para que sejam responsabilizados e mais facilmente identificados pelos atos cometidos digitalmente.

*Presidente do Sindicato da Habitação do Estado de São Paulo (Secovi-SP)