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Enquanto o mundo ainda tenta prever como será a política de Trump, ao menos um ponto já ficou evidente e causa enormes danos à humanidade: disseminação da intolerância.
Assim defino intolerância pelo enfoque psicológico: “”intolerância – a incapacidade do sujeito em suportar sua própria frustração por conta do outro ser diferente daquilo que idealiza””.
Veja, a intolerância na realidade nada tem a ver com o outro, diz única e exclusivamente a incapacidades pessoais, e sendo assim desnuda o sujeito intolerante expondo suas pequenices e fraquezas. Em outras palavras o sujeito percebe-se vulnerável frente às ameaças provocadas pelas diferenças, não consegue e/ou não sabe lidar, superar ou remediar, restando-lhe apenas exercer intolerância. Portanto, quanto mais intolerante, mais expostas ficam suas fraquezas. É interessante, mas poucos pensam assim, e menos ainda o intolerante.
O potencial e alcance daquilo que Trump fala e publica, em função da posição ocupada, é incomensurável. Portanto, além de desnudar seu caráter, tal comportamento vai toxicamente contaminando a todos: quer sejam os que sofrem pela intolerância, quer sejam os adeptos à intolerância (e penso, neste ponto foi “”brilhante”” estratégia de eleição de Trump, qual seja, perceber que ser intolerante está na moda e ganha eleição). Além do caráter de intransigência em relação ao outro, a intolerância explicita-se pela depreciação do outro.
Intolerância não é inédita em nossa sociedade contemporânea, ao contrário sob a ótica da evolução sempre existiu. No entanto está muitíssimo facilitado difundir intolerância: pelas mídias sociais.
Há duas condições propiciadoras desta disseminação via mídias sociais:
1 – Você normalmente não fala declaradamente tudo o que acha negativo sobre alguém na presença deste alguém, pois a perspectiva de rechaço é inevitável. Mas quando se encontra solitariamente frente ao computador ou smartphone, o único mecanismo regulador é sua personalidade (consciente e inconsciente). Se este conjunto não der conta de suportar a frustração das diferenças, um post intolerante está por acontecer;
2 – Você então posta e o mundo tem acesso; o alcance é muito maior que apenas comentários intolerantes em rodinhas de conversa entre amigos.
Então vai se criando um clima de intolerâncias; a intolerância de agora foi propiciada pela anterior. Claro, um mete o pau e isto viabiliza uma paulada maior de outro intolerante na sequência. E por fim temos o que denominamos de “”zeitgeist da intolerância”” um espírito de dias de intolerâncias.
E os temas insuportáveis pululam na pipoqueira dos intolerantes… religião, raça, orientação sexual, etc.
O drama é que o prejuízo, dor e sofrimento será suportado pelo sujeito não tolerado, sendo violência o recurso mais cruel de expressar intolerância, podendo tornar-se percussora de guerras. Eis uma preocupação real da postura intolerante de Trump.
A intolerância já fez milhares de vítimas: apenas no holocausto algo em torno de seis milhões de judeus foram mortos. Se isto lhe parece algo distante e do passado, no Brasil morre perto de um homossexual por dia em função da intolerância.
A questão é: o que fazer?
Tolere! E se não conseguir tente encontrar em você mesmo os reais motivos de suas incapacidades, e se ainda assim não conseguir, peça ajuda!
Não dissemine intolerância, pois a próxima vítima pode ser você!
*Psicanalista e escritor – www.psicastan.com.br
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