m aplicou recursos do FGTS em ações da Vale e Petrobras na última década terá a chance de sacar esse dinheiro se ele estiver em contas inativas até 31 de dezembro de 2015. Economistas veem o resgate como vantajoso, especialmente para quem precisa do dinheiro para pagar dívidas em atraso, mesmo com os fortes ganhos que esses fundos tiveram em 2016.

Atualmente 61 mil pessoas têm dinheiro aplicados nesses fundos, segundo dados de dezembro de 2016 da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Esses trabalhadores aplicaram parte do seu FGTS em ações da Petrobras em 2000 e da Vale em 2002.

Quem fez o investimento tinha restrições para mexer nos recursos e só poderia sacar o seu FGTS em condições específicas, como demissão sem justa causa, doenças graves ou a compra de um imóvel. Também tinha a opção de retornar o dinheiro para o próprio FGTS, que tem rendimento garantido, mas muito baixo (3% ao ano mais a taxa referencial).

A decisão do governo anunciada no fim de 2016 de liberar o saque do dinheiro do FGTS em contas inativas até 2015 também contempla os valores aplicados nos fundos de ações da Vale e da Petrobras. As contas do FGTS ficam inativas após a rescisão do contrato de trabalho.

 

Quanto estes fundos renderam?

 

Quem deixou o dinheiro aplicado desde o início da captação viu seu patrimônio aumentar 437% até agora, no caso da petroleira, e 673%, no da mineradora.

Se o trabalhador aplicou R$ 1 mil na Petrobras há mais de 16 anos, ele teria hoje o equivalente a R$ 5.370 com essa valorização. Descontada a inflação do período, ainda assim houve retorno positivo. O ganho real foi, em média, de 84,5%, segundo a Economatica.

No ano passado, o dinheiro do FGTS aplicado nessas ações rendeu em média 94%, segundo um levantamento feito pela provedora de informações financeiras Economatica ao G1.

 

O retorno vem do bom desempenho das ações ordinárias (com direito a voto) das duas companhias no Ibovespa em 2016, já que esses fundos investem praticamente todo seu patrimônio nessas ações. Mas eles ainda estão longe de recuperar a rentabilidade que tinham antes da crise financeira internacional.

Desde o pico de alta, em maio de 2008, os fundos que investem na Petrobras com recursos do FGTS acumulam um prejuízo médio de 70%. Os da Vale, de 53%.

Quem deixou o dinheiro no FGTS acumulou um retorno de 120,63% entre janeiro de 2000 e dezembro de 2016, segundo a Caixa Econômica, responsável pela gestão do fundo. Trata-se de um retorno abaixo da inflação oficial, que avançou 200,63% no período. Em 2016, a inflação ficou mais uma vez acima dos ganhos do fundo – avançou 6,29%, contra 5,01% dp FGTS.

 

Vale a pena sacar o dinheiro?

 

O economista Miguel Daoud, consultor da Global Financial Advisor, considera que o momento é ideal para sacar o dinheiro desses fundos. “Com essa recuperação recente, as ações não estão mais no fundo do poço. É preferível garantir a oportunidade de sacar, a menos que o investidor possa esperar muitos anos sem mexer nesse dinheiro”, avalia.

Para Daoud, o trabalhador que acumulou perdas de até 15% com os papéis da Vale e Petrobras nos últimos anos pode tentar recuperar esse dinheiro com novos investimentos. “Já quem perdeu acima desse percentual e puder deixar o dinheiro nesses fundos por muitos anos também pode fazer um bom negócio no futuro”. Segundo ele, a perspectiva para o longo prazo é de recuperação dessas ações.

Funcionário pinta tanque da Petrobras em Brasília (Foto: Reuters/Ueslei Marcelino)

O economista Marcelo D’Agosto, especializado em administração de investimentos, acredita que só é oportuno sacar os recursos para reaplicá-los em outros investimentos ou livrar-se de dívidas em atraso. “Se for para deixar o dinheiro parado no banco é melhor não fazer o resgate”, acredita.

D’Agosto considera que 2017 será um ano favorável para as ações da Vale e Petrobras na bolsa. Segundo ele, a recuperação dos preços do minério de ferro deve beneficiar a mineradora, assim como a petroleira deve ser ajudada por uma melhor gestão após as denúncias de corrupção investigadas pela Lava Jato.

Apostas para a bolsa

Para quem aposta que os papéis dessas empresas continuarão subindo este ano, o economista sugere fazer o resgate dos fundos FGTS e reinvestir diretamente no mercado de ações em vez de deixar o dinheiro aplicado no fundo. A diferença é a possibilidade de vender as ações quando quiser no futuro, sem precisar atender a regras específicas de saque do FGTS. “Outra opção é montar uma carteira de ações mais diversificada para mitigar os riscos de desvalorização”.

Por sua vez, o economista Daoud vê com cautela desempenho do mercado financeiro em 2017. Ele acredita que o ano será de “alto risco” para o principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa, sustentado em grande parte pelos papéis da Vale e Petrobras.

 

“Os riscos de um desajuste da economia mundial podem superar a capacidade de recuperação da Vale e Petrobras. Por isso recomendo cautela para quem está feliz com a valorização dessas ações”

 

“O que mais pesa é o efeito do governo Donald Trump sobre a política de juros nos Estados Unidos”. Segundo ele, uma alta mais acelerada nas taxas por lá poderia causar um “efeito manada” de recursos para o país e afetar os mercados do mundo todo, especialmente os emergentes como o Brasil, considerados menos seguros para investir.

“Os riscos de um desajuste da economia mundial podem superar essa capacidade de recuperação da Vale e Petrobras este ano. Por isso eu recomendo cautela para quem está feliz com a valorização recente dessas ações”, afirma Daoud.

 

Patrimônio e cotistas em queda

 

No início dos anos 2000, trabalhadores com carteira assinada que tinham contas ativas no FGTS puderam aplicar até metade desses recursos nos chamados Fundos Mútuos de Privatização (FMP-FGTS), que investem em ações das duas empresas.

A captação em ações da Petrobras aconteceu em agosto de 2000 e atraiu mais de 300 mil pessoas. Já a da Vale ocorreu em março de 2002. Após esse período, não foi possível fazer novas captações.

Nos últimos 10 anos, os fundos que aplicam nas ações da petroleira perderam quase metade dos cotistas, chegando a pouco mais de 61 mil pessoas em dezembro de 2016, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Os fundos da Vale, por sua vez, perderam 54% dos cotistas na última década, passando de 355 mil investidores para pouco mais de 160 mil no fim do ano passado. O número de cotistas caiu gradualmente com os saques, já que esses fundos não aceitam novas captações.

Com a saída de cotistas e a desvalorização das ações nos últimos anos, o patrimônio dos fundos que aplicam esses recursos na petroleira despencou. No caso dos fundos da Petrobras, a queda foi de 81% desde o auge de valorização, em maio de 2008. Passou de R$ 11,4 bilhões, naquele período, para R$ 2,1 bilhões em 2016.

Mas no ano passado o patrimônio dos fundos da Petrobras quase dobrou, graças ao forte avanço das ações da petroleira na bolsa.

Saque do FGTS de contas inativas

Segundo o Conselho Curador do FGTS, atualmente, existem 18,6 milhões de contas inativas há mais de um ano, com um saldo total de R$ 41 bilhões. As contas pertencem a 10,1 milhões de trabalhadores.

A partir de agora, quem está atualmente empregado passa a poder sacar o valor de uma conta inativa, desde que o afastamento do emprego anterior tenha ocorrido até 31/12/2015. O trabalhador não pode sacar o FGTS de uma conta ativa, ou seja, depositado pelo empregador atual.

É possível consultar o saldo no site da Caixa ou do próprio FGTS e através do aplicativo para smartphones e tablets (com versão para Android, iOS e Windows). É possível ainda fazer um cadastro para receber informações do FGTS por mensagens no celular ou por e-mail.