A Igreja inicia o Ciclo Pascal que tem o Tríduo Pascal como centro, a Quaresma como preparação e o Tempo Pascal como prolongamento. Com a Campanha da Fraternidade (CF) este ano em continuação ao tema do ano passado – “Casa comum, nossa responsabilidade”, a Quaresma torna-se um tempo propício para criar a cultura da fraternidade, apontando os caminhos para superar as situações de morte que envolvem o ser humano e o universo todo, resgatando o cuidado e a admiração como parte integrante da vida em suas múltiplas direções.
Ela nos convida ainda a um tempo de deserto, para a luz do Espírito fazer a experiência da graça, na sobriedade e no despojamento, iluminada pela esperança que não decepciona. Retoma, como determina o objetivo da Campanha da Fraternidade de 2017, o “cuidar da criação, de modo especial dos biomas brasileiros, dons de Deus, e promover as relações fraternas com a vida e a cultura dos povos à luz do Evangelho.
Pode ser que alguém pense ser estranha tal proposta ou o que isso tem a ver com a Quaresma. Sintonizados com o texto base, perguntamos: como é que alguém pode celebrar a Páscoa, ou os sacramentos que o inserem no mistério de Cristo, alheio à vida da criação na qual está mergulhado e que o sustenta? (Texto Base – TB, nº 21).
Com a Campanha da Fraternidade, retomamos a proposta de “cultivar e guardar a criação” (Gn 2, 15), obra querida por Deus, harmonicamente organizada e amada por ele, onde nenhum ser existe isoladamente, mas todos estão relacionados como parte de um plano no qual, de certa forma, uns dependem dos outros, e o homem possui o papel de ser o guardião desta obra criada.
Se a criação é obra de Deus, pertence a ele e o homem, como sua imagem e semelhança, recebeu a vocação de zelar e proteger todos os seres que dela fazem parte.
A reflexão deste ano chama atenção para os biomas brasileiros. “Um bioma é um conjunto de vida (animal e vegetal) constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, o que resulta em uma diversidade biológica própria” (TB, nº 4). Bioma é uma expressão que vem de “bio”, que em grego quer dizer “vida”, e “oma”, sufixo também grego que significa “massa”, grupo ou estrutura de vida.
Os biomas brasileiros apresentados pela CF são seis:
Bioma Amazônia: é o nosso maior bioma, caracterizado pela exuberância das florestas e das águas; Bioma Caatinga: é caracterizado pelo semiárido, entre a estreita faixa da mata atlântica e o cerrado com a convivência do período chuvoso e da seca; Bioma Cerrado: é o mais antigo, com uma vegetação típica de locais com estações climáticas bem definidas (uma época bem chuvosa e outra seca). Com o bioma Amazônia forma uma complementação perfeita para a produção e distribuição de água para o Brasil e parte da América do Sul; Bioma Mata Atlântica: bioma onde estamos inseridos, originalmente denso, extenso e rico de variedade animal e vegetal, além de campos de altitudes, mangues e restingas, apresentando grande poder de regeneração; Bioma Pantanal: uma das maiores extensões úmidas e contínuas do planeta, sendo o menor bioma em extensão territorial, entretanto esse dado em nada desmerece a riqueza e a beleza de sua biodiversidade – considerado reserva biosfera e patrimônio natural mundial pela Unesco; Bioma Pampa: termo de origem indígena para região plana, sua característica principal é a vegetação que apresenta uma composição herbácea, ou seja, formada basicamente por gramíneas e espécies vegetais de pequeno porte, não ultrapassando 50 centímetros de altura.
Os biomas mostram a unidade entre os diversos elementos da natureza que precisam ser cultivados e conservados o que implica que a vida em todos os seus aspectos seja exuberante.
A CF está em plena consonância com a Encíclica “Laudato Sí” do Papa Francisco que ressalta a “importância da consciência de que na criação tudo está interligado e sobre a necessidade imperativa de cultivar esses vínculos”.
Quanto aos temas abordados pelo ensino social da Igreja, o da ECOLOGIA já está suficientemente consolidado (TB, nº 245). O que podemos fazer? Acompanhar o plano diretor dos municípios em relação ao saneamento básico, o que implica saúde e qualidade de vida para todos; estar atento as áreas de preservação permanente denunciando projetos imobiliários que as ameaçam; zelar pelas nascentes e rios – que eles não sejam depósitos de lixo; nas escolas, paróquias e comunidades com suas pastorais e movimentos, cultivar a dimensão do cuidado, entre outros…, o que não é algo secundário, mas essencial.
Ensina-nos ainda o Papa que “o tempo para encontrar soluções globais está acabando. Só podemos encontrar soluções adequadas se agirmos juntos e de comum acordo. Portanto, existe um claro, definitivo e improrrogável imperativo ético de agir” (TB, nº 258).
Que a Igreja nesta Quaresma nos ajude a ver que tudo que Deus fez é muito bom.
*Bispo da Diocese de Bragança Paulista, SP