No mundo contemporâneo, o sofrimento pode apresentar diferentes manifestações clínicas, que vão englobar distúrbios alimentares, sintomas psicossomáticos, o uso abusivo de álcool e outras drogas, o consumo desenfreado de medicamentos, entre outros. Isso se deve as exigências de satisfação cada vez maiores, impostas pela cultura dominante, sabendo que, a construção psíquica depende da interação com o outro e que deste entrelaçamento vão resultar consequências muito significativas no desenvolvimento do sujeito, é preciso pensar a saúde e a doença além da dimensão biomédica, biológica ou em atributos desmembrados do indivíduo.
O alívio destes sofrimentos, contemplada com a compaixão pelo doente e seus familiares, a tentativa pelo controle impecável dos sintomas e da dor, e a procura desenfreada pela manutenção de uma vida ativa enquanto ela durar, são alguns dos princípios dos Cuidados Paliativos que, finalmente, começam a ser reconhecidos em todas as esferas da sociedade brasileira.
Os Cuidados Paliativos foram definidos pela Organização Mundial de Saúde em 2002 como uma abordagem ou tratamento que melhora a qualidade de vida de pacientes e familiares diante de doenças que ameacem a continuidade da vida. Para tanto, é necessário avaliar e controlar de forma impecável não somente a dor, mas, todos os sintomas de natureza física, social, emocional e espiritual. O tratamento em Cuidados Paliativos deve reunir as habilidades de uma equipe multiprofissional para ajudar o paciente a adaptar-se às mudanças de vida impostas pela doença, e promover a reflexão necessária para o enfrentamento desta condição de ameaça à vida para pacientes e familiares .Para este trabalho ser realizado é necessário uma equipe mínima, composta por: um médico, uma en¬fermeira, uma psicóloga, uma assistente social e pelo menos um profissional da área da reabilitação (a ser definido conforme a necessidade do paciente). Mas em várias regiões deste extenso Brasil ainda temos uma disparidade muito grande quando se trata de saúde, onde o acesso a determinados serviços básicos pode ser considerado o mais crônico dos problemas. E essa dificuldade não diz respeito somente ao acesso demográfico, mas também, da grande desigualdade existente nas opções e recursos assistenciais. Pois os programas de atenção básica de saúde, que oferecem serviços de atendimento e tratamento com complexidade maior, se concentram, na grande totalidade, nos centros urbanos, o que acaba restringindo o acesso e/ou aumentando muito o tempo nas filas de espera. Ainda temos, diante dessa esfera de problemas, uma lacuna na formação de médicos e profissionais de saúde em Cuidados Paliativos, essencial para o atendimento adequado, devido à ausência de residência médica e a pouca oferta de cursos de especialização e de pós-graduação de qualidade. Ainda hoje, no Brasil, a graduação em medicina não ensina ao médico como lidar com o paciente em fase terminal, como reconhecer os sintomas e como administrar esta situação de maneira humanizada e ativa. Buscar meios para se obter dignidade ao paciente que sofre, é saber valorizar muito mais do que uma vida que se está indo com o passar dos dias, pois quando se procura “cuidar” do outro, vivencia-se o sentido do amor ao próximo sem distinção, garantindo ao paciente e seus familiares, um sopro de dignidade que se estenderá pela eternidade.
*Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar da Unesp – Araraquara.