As organizações, e as do agronegócio brasileiro da carne não fogem à regra, são formadas por pessoas. Sejam essas empresas públicas ou privadas, o comportamento oportunista de seus acionistas ou colaboradores pode colocar em xeque toda uma reputação construída ao longo de muitos anos. É incontestável a competitividade do Brasil como fornecedor global de proteína de origem animal de qualidade.
A falta de ética praticada pelas pessoas é um fenômeno também encontrado no mundo corporativo, cujos mecanismos dissuasórios e punitivos têm-se revelado insuficientes. A função controle na administração é cara e não garante 100% de eficácia. Ora, como garantir a fiscalização e a segurança dum alimento num contexto de corrupção endêmica no País, por mais robusta que essa agroindústria possa ser?
Escândalos, como o deflagrado pela operação “Carne Fraca”, da Polícia Federal do Brasil, sempre acontecerão enquanto a atratividade dos incentivos para a ilicitude superar o medo das sanções decorrentes da sua prática. Uma minoria de agentes do MAPA, da BRF e da JBS agiu em conluio, acreditando na impunidade e prejudicando a boa imagem que o setor desfruta nacional e internacionalmente, graças ao trabalho sério e honesto da grande maioria dos agentes do agronegócio da carne brasileiro.
Além das devidas penalizações que a Justiça haverá de aplicar, um caminho longo, porém eficaz, que pode ser percorrido tanto pelas empresas públicas como pelas privadas, é trabalhar a liderança das suas pessoas, fazendo proprietários e funcionários, sem exceção, praticarem a empatia, procurando sempre se colocar no lugar do consumidor final a cada ação que intencionarem empreender.
Processos seletivos em que a variável caráter, além de outros quesitos importantes, tenha preponderância na escolha de quem deverá ser contratado, terá poder de decisão e a quem se fornecerá crédito subsidiado via banco de fomento, por exemplo, pode constituir-se numa ferramenta mitigadora do risco da corrupção. A legislação trabalhista e a área de RH nas organizações vão precisar passar por uma radical mudança de paradigma.
Certamente, o setor da carne se recuperará do inferno astral momentâneo, entretanto com algumas sequelas mais duradouras, como prejuízos à imagem da carne sustentável brasileira. Contudo, essa crise cumprirá uma missão importante, a de fazer o meio ficar mais alerta e precavido contra o oportunismo. O mundo pode continuar a confiar na carne do Brasil.
*Professor do Departamento de Economia da Unesp de Jaboticabal.