Donald Trump falou na noite de quarta-feira, 1º, em sessão conjunta do Congresso Americano (Senado e Câmara) para delinear os objetivos de sua gestão. Foi um aperitivo do ‘State of the Union’ o principal discurso anual, herança da Inglaterra onde os Reis ou Rainhas fazem o mesmo há séculos, que Trump com apenas 40 dias de governo ainda é incapaz de fazer.
Para os críticos de plantão aqui e no Brasil, loucos pelo ‘prato cheio’ que estava por vir deve ter sido mais frustrante que para o pessoal do apenas medíocre La La Land quando tiveram que devolver a estatueta no Domingo no maior fiasco do Oscar que se tem noticia. Esperavam um Trump da campanha presidencial atacando a esquerda liberal, a mídia tendenciosa, os Democratas, os imigrantes ilegais, o México e os aliados europeus da Otan, as lojas que boicotaram a marca de sua filha Ivank e sabe-se lá o que mais.
Trump foi mais que presidencial – foi o espírito de Regan e sem os bem treinados truques de oratória de Obama foi alem… lembrou Theodore Roosevelt falando para todos os americanos, ricos, pobres, classe media, de esquerda, conservadores, imigrantes, militares, empresários e trabalhadores – sem distinção e num tom coloquial que conseguiu o impossível: elogios do New York Times, Washington Post e tornou a esparsa crítica da oposição em algo perto do ridículo (CNN, Clinton News Network como é apelidada). A pré-gravada resposta Democrata do ex-governador do Kentucky (derrotado por um Republicano) foi simplória e patética, mostrando que o partido vai ter muito trabalho se deseja reconquistar a maioria no Congresso em 2018.
A primeira referencia de Trump foi em favor da tradicional diversidade étnica, religiosa e recentemente racial americana, dizendo que existe muito ainda para ser feito e que ignorar ataques recentes anti-semitas ou étnicos como aos hindus ou ainda aos afro-americanos como os governos anteriores fizeram vão contra as tradições do país e não mais serão aceitos. Como também não serão mais aceitos acordos de comercio que favoreçam apenas o intercambio mundial desprezando os interesses americanos. A bordão foi ser a favor do “free trade but fair trade” (livre comercio, mas comercio justo) – não é mais possível que motos americanas paguem 100% de imposto de importação no Japão e as japonesas 12% ao entrar nos EUA. Aproveitou o ‘link’ para elogiar as grandes indústrias automotivas, aeronáuticas (mencionou pelo menos 8) que desde sua eleição e seus twiters resolveram mudar de rota e investir bilhões em novas fabricas nos EUA possibilitando milhares de novos empregos, agora com o apoio do governo em isenção de impostos, protecionismo e subsídios. Lembrou os 13 dias positivos consecutivos do índice Dow Jones da bolsa de New York fruto também de sua intenção de gastar USD 1 trilhão na infra-estrutura com produtos ‘Made in USA’. O bordão foi ‘buy american…hire american’ (compre produtos americanos … contrate americanos).
Se foi drástico em reforçar o anuncio do seguro saúde ‘Obamacare’ que desagrada aos Democratas, foi uma sinfonia aos ouvidos de toda classe media e trabalhadora quando prometeu medidas para baixar os custos médicos e de medicamentos no país, acabando com proibição de vendas inter-estaduais e revendo impostos e contratos de seguro saúde. É inaceitável que americanos comprem do Canadá e México os mesmos remédios por 1/3 do preço assim como cirurgias e tratamento odontológico. (E veterinário também!) Engatou que também é inaceitável que estudantes da classe media e baixa estejam fora do alcance do ensino superior pelo seu alto custo ou se endividem de forma impagável para poder ter uma profissão melhor.
Bem ao estilo Roosevelt, elogiou e reafirmou seu comprometimento com a OTAN, mas exigiu maior participação financeira dos outros ‘partners’ (sócios) levantando todo o Congresso independente de partido, quando disse “fui eleito por americanos, para defender americanos e não o resto do mundo” saudado com estrondosa salva de palmas. Para os que viam com maus olhos sua proximidade com Putim, sutilmente engatou com gastos militares aos bilhões para cumprir a promessa de forças armadas mais bem equipadas e modernas para justamente defender os interesses americanos e de seus aliados em todo o globo. E que quando o façam, o façam para vencer e não apenas rugir. Mostrou como é possível faze-lo sem novos impostos renegociando contratos e reajustando objetivos como do avião militar mais caro da historia – o F35.
Se causou murmúrios de desaprovação entre os Democratas quando anunciou a criação de um órgão de apoio para as famílias de vitimas de imigrantes criminosos ilegais, mesmo com elogio à presença de um pai de uma dessas vitimas, contrabalançou com apoio a uma nova política de imigração baseada em meritocracia e não trabalho de baixa produtividade. Complementou com apoio irrestrito às forças policiais e de fronteira para que possa ser revertido o atual cenário inaceitável de aumento da criminalidade nas grandes cidades do país.
Entretanto o momento em que conquistou o país foi sua homenagem aos veteranos e às famílias de militares mortos em combate, tão abandonados nos governos Obama. O que era para ser apenas mais uma homenagem singela à esposa de um soldado das forças especiais (Navy Seals) morto recentemente em combate numa operação secreta no Oriente Médio – presente nas galerias ao lado de sua filha Ivanka – pela reação da emocional da jovem viúva ao vivo para todo o país, se tornou um recorde: o mais longo aplauso de que se tem noticia de todo as sessões do Congresso, levantando todos no aplauso sem exceção: Republicanos, Democratas, Juizes, Militares, Senadores e Deputados. Assim como em Israel (que para o país por minutos todos os anos ao toque de uma sirene no Dia da Lembrança), uma nação que honra seus mortos mostra que apesar de suas diferenças sempre se une nestes momentos, desprezando as vicissitudes e arrebanhando forças e otimismo para o futuro.
Educação, Saúde, Segurança, Empregos, Investimento, Fronteiras Seguras, Forças Armadas modernas e Política Externa foram seus temas de modo simplório, mas compreensível para os milhões de americanos, tanto os que o elegeram como os derrotados. Foi a primeira grande vitória de Trump. Seus adversários que se cuidem, pois se amanhã as pesquisas (sempre presentes) mostrarem sua meteórica ascensão, Trump terá também o apoio popular para sua agenda (não que ele se importe muito) algo que nem os grandes conglomerados da mídia ou toda esquerda liberal de Hollywood e presente nos vários campi universitários ao redor do país, será capaz de deter, podendo suas criticas e oposição se tornar em tiros nos próprios pés ou bumerangues.
Trump chegou e mostrou a que veio. Vai governar para os americanos, não para Merkel, Putim ou Xi Jinping. Vai resgatar suas auto-estimas e torná-los respeitados no mundo como antes Carter. Trump não foi nem de longe uma piada de Terça de Carnaval!
*Professor das Faculdades REGES