Comemoramos na semana passada, o Dia Mundial da Água que suscita um debate fundamental nos dias de hoje. A crise da água no mundo não é apenas uma ameaça em si mesma, mas um risco múltiplo, envolvendo saúde, produção de alimentos e geração de energia, entre outros campos, e refletindo-se diretamente na estabilidade política e social. Dados do National Intelligence Council, dos Estados Unidos, apontam que a segurança hídrica é fundamental para a estabilidade política dos países e o Fórum Econômico Mundial confirmou isso no seu Relatório de Riscos de 2017.
Segurança hídrica significa disponibilidade confiável em níveis aceitáveis de quantidade e qualidade de água para saúde, sustento e produção, conjugada a um nível também aceitável de riscos. Em outras palavras, significa proteger a sociedade de perigos associados a enchentes e secas e garantir acesso das pessoas à água contribuindo para seu desenvolvimento social e econômico.
Mas o trabalho nessas duas dimensões pede infraestrutura e isso só se consegue com investimento de longo prazo. O que significa que nas próximas décadas precisaremos de mais infraestrutura, uso eficiente dos recursos, planejamento e governança fortalecida. Ou seja – usando uma adaptação livre – a construção da resiliência do setor envolve três “i”s: Instituições (governança, comitês de bacia, regulação e organizações que deem suporte); Infraestrutura (aumentar a capacidade de armazenamento para resiliência a eventos extremos) e Investimento (a infraestrutura hídrica tem custos associados elevados).
Um exemplo é o caso de São Paulo, onde enfrentamos em 2014/15 a seca recorde dos últimos 125 anos. Foi necessário mexer em questões estruturais e não estruturais, indo da aceleração de investimentos na produção de água potável à busca da conscientização da sociedade para estabelecer um novo padrão de consumo. Apesar das dificuldades, São Paulo não parou e hoje outros estados e países vêm conhecer o que foi (e está sendo) feito. Um exemplo é a vinda de técnicos da Companhia de Saneamento do Distrito Federal (CAESB) para conhecer unidades de tratamento com uso de membranas, e o empréstimo das bombas do Cantareira para aliviar os efeitos da seca no Nordeste, fazendo a água chegar mais cedo a cidades da Paraíba.
No aspecto da infraestrutura, com obras já inauguradas e outras em andamento (como o São Lourenço e a Interligação Jaguari-Atibainha), houve rápido avanço e podemos contar com segurança hídrica para enfrentar fenômenos climáticos ainda mais extremos. Paralelamente, a mudança de comportamento da população, incentivada por programas de conscientização e aplicação de bônus e ônus, gerou redução média de 15% no consumo.
E não esquecemos aqui em São Paulo do aspecto fundamental de levar água e saneamento às áreas mais afastadas, onde companhias e administrações municipais têm dificuldade de chegar. Desenvolvemos programas como Água é Vida e Água Limpa, que levam serviços fundamentais a comunidades distantes ou carentes, atendendo municípios pequenos, que não teriam condições de custear seus próprios sistemas de abastecimento e tratamento.
Para debater todas estas questões fundamentais e as perspectivas de futuro, teremos aqui no Brasil, em 2018, o Fórum Mundial da Água. Muito já se falou de um futuro de conflitos pela água. Talvez possamos fazer com que seja o contrário: que a união ao redor do cuidado e da melhor distribuição da água seja justamente a forma mais eficaz de promover a paz e o progresso social e econômico.
*Secretário de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo.