A recessão econômica reduziu a internacionalização da pesquisa brasileira. Esse encolhimento foi materializado nos cortes efetuados em ações como o Ciência Sem Fronteiras e nas restrições orçamentárias que retraíram os investimentos no exterior das instituições de pesquisa e das empresas brasileiras.
Num cenário de escasseamento dos investimentos, aumenta o desafio dos gestores públicos: é preciso recuperar a capacidade de execução que foi subtraída com os cortes orçamentários, fazer mais com menos. Para usar uma palavra de efeito, é preciso “inovar” na proposição de programas e ações que possam dar continuidade à trajetória da pesquisa brasileira, que já vem de longa data e hoje é reconhecida pelo mundo como o estado-da-arte global na física, na agronomia, na saúde e em outras áreas. As empresas precisam contar com o apoio governamental para competirem em áreas intensivas em tecnologia de ponta, como na aviação, na cadeia de petróleo e gás, na indústria do software e no desenvolvimento de fontes de energias renováveis.
A atuação do Brasil nas cadeias de ciência, tecnologia e inovação não é resultado de iniciativas voluntaristas e pontuais: é preciso coordenar os esforços públicos e privados, e cabe ao Estado prover instrumentos para estimular estratégias de atuação global. Governos do mundo todo fazem isso de forma consistente, especialmente os Estados Unidos, China e as principais nações da Europa. Todos eles realizam investimentos bilionários, reduzem a burocracia e ampliam as formas de apoio.
No plano institucional, os agentes governamentais precisam intensificar a celebração de acordos de cooperação que incluam investimentos bilaterais e a promoção do intercâmbio e da cooperação. Em oposição à “fuga de cérebros”, que ameaça a continuidade das pesquisas no país, é preciso criar a “circulação de cérebros”, atraindo cientistas estrangeiros para cooperarem com os grupos de pesquisa nacionais e apoiando a permanência dos nossos pesquisadores notórios.
É preciso também estabelecer novos rumos no relacionamento financeiro com o exterior, reinserindo o Brasil nos fluxos de crédito e financiamentos internacionais. A celebração de captações com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e outras instituições bilaterais é uma clara demonstração de como o governo pretende potencializar todos os instrumentos disponíveis para alavancar seu crescimento econômico, além de um evidente sinal de confiança internacional.
Também são essenciais as relações diplomáticas, lideradas pelo Itamaraty e apoiadas por diversos ministérios e agências públicas, para abrir novos canais e cooperação e para garantir a inserção das inovações brasileiras nos mercados internacionais. Essa construção não ocorre da noite para o dia. Para entender o tamanho do desafio, basta considerar a complexidade da diplomacia internacional, as barreiras técnicas e sanitárias e os intensos debates que ocorrem nos encontros da Organização Mundial do Comércio, no Fórum Econômico Mundial e em outros fóruns estratégicos.
Aos poucos, o país encontra novos meios para fortalecer a sua inserção no plano global. Os investimentos públicos em ciência, tecnologia e inovação são essenciais para apoiar a competição, que muitas vezes ocorre em território hostil. Com ou sem restrições orçamentárias, a evolução das políticas públicas e das medidas de incentivo à internacionalização entraram na ordem do dia, para dinamizar e contribuir para o aquecimento da economia e para a atração de divisas.
*Professor titular da Fundação Getúlio Vargas