No interior do Rio Grande do Sul onde nasci e passei minha infância e juventude, costumávamos criar vários animais, dentre eles porcos, vacas, bois e bezerros. Era uma vida difícil, baseada na agricultura familiar de pequenos produtores italianos cujas origens remontam ao século passado. Muitas vezes, sem qualquer evidência prévia, algumas vacas morriam ou ficavam aparentemente murchas por períodos longos, sem produzir uma gota de leite. Era comum também colocarmos touros nos cercados juntamente com as vacas para que a espécie fosse reproduzida. Esses touros tipicamente ficavam dias na tentativa de acasalar. O resultado nem sempre era positivo porque as vacas poderiam não estar em seu período fértil, ou seja, novos bezerros não surgiriam!
Qual a relação disso tudo com a nuvem? O que é nuvem, ou mais precisamente computação em nuvem? A computação em nuvem é um paradigma pelo qual, a grosso modo, a hospedagem e processamento dos dados e serviços ficam hospedados em servidores (data centers) gerenciados por algum provedor. Exemplos de provedores bem conhecidos são a Amazon e Microsoft, mas existem vários outros. Com a computação em nuvem, podemos terceirizar a hospedagem de serviços que antes eram tipicamente instalados internamente às empresas e gerenciados por uma equipe local. Mais do que isso, as empresas conseguem agora expandir seu negócio sem adquirir equipamentos (servidores, equipamentos de rede, etc.) já que a nuvem é elástica e pode atender novas demandas na medida em que elas chegam. A computação em nuvem possui a capacidade de aumentar e diminuir a oferta de recursos permitindo também que a cobrança siga o modelo pay-per-use, ou seja, paga-se efetivamente pela quantidade de recursos usada.
E então, onde as vacas entram nesta conversa? Recentemente temos ouvido falar em Internet das Coisas, do inglês Internet of Things (IoT). A ideia da IoT é permitir que “”coisas”” sejam conectadas através de uma rede de computadores, potencialmente a própria internet. Neste sentido, qualquer coisa poderia enviar e receber dados para outras coisas através da internet. É fácil perceber que a quantidade de dados que pode ser gerada através da IoT é imensa. Analistas preveem que até 2020 teremos 30 bilhões de coisas conectadas pela internet. Os provedores de nuvem e empresas de telecom devem faturar US$ 868 bilhões (de dólares). Os mais diferentes tipos de aplicações e negócios estão surgindo e milhares devem surgir nos próximos anos. Dentre eles podemos citar novas soluções para monitoramento inteligente do trânsito, carros autônomos, cidades inteligentes, agricultura, saúde, segurança e logística.
Bem, voltando à conversa em torno das vacas, podemos imaginar que vários sensores poderiam estar monitorando o animal. Dados de temperatura do corpo, pressão arterial, quantidade de passos, etc., poderiam ser coletados, armazenados e processados para extração de informações úteis. Armazenados e processados onde? Na nuvem!
No cenário das vacas, pesquisadores comprovaram que a quantidade de passos dados por uma vaca possui estreita relação com seu período fértil. Constatou-se que a vaca fica agitada durante o período fértil o que acaba fazendo com que ela caminhe mais nestes dias. Sendo assim, um simples sensor que conte os passos do animal e envie esta informação (para a nuvem) para ser processada seria útil no contexto da reprodução bovina.
O exemplo das “”vacas na nuvem”” é apenas um dentre os milhares existentes e novos que poderão surgir. É fácil perceber as possibilidades em torno de novas aplicações e inovações quando se imagina que tudo poderá estar conectado. A computação em nuvem torna-se então indispensável para armazenamento e processamento desta infinidade de dados gerados pela IoT.
*Coordenador do MBA em Gestão de TI e Computação em Nuvem ( Ufscar – Sorocaba)