Desde as manifestações populares de 2013, o Brasil parece estar vivendo, constantemente, momentos disruptivos. E “nós, o povo”, não conseguimos deixar de ter a sensação de viver na Matrix. Não há Frank Underwood que consiga acompanhar o que acontece no Planalto…
Os paradigmas que vêm sendo rompidos nesses últimos quatro anos fazem de nossa nação uma massa sem perspectiva, refém da oscilação econômica e instabilidade política, cujo peso maior recai sobre os trabalhadores, aqueles que mal conseguem cumprir suas obrigações ao final de cada mês.
E, se não bastasse a tristeza das dificuldades econômicas, ou a desilusão por viver em um país cujas causas sociais são meras fachadas por meio das quais a classe política manipula a massa, o brasileiro ainda precisa ouvir frases que depreciam o povo, que fazem pouco da roubalheira endêmica estabelecida, em cifras astronômicas. Só se fala em bilhões.
Nunca neste país, “nós, o povo”, tivemos voz. E agora, caso o presidente Michel Temer caia, mais uma vez, não a teremos. De acordo com a legislação vigente, e com a Carta Magna brasileira, a Constituição de 1988, se este episódio tiver força suficiente para uma renúncia ou qualquer outra forma de afastamento do mandatário da nação, em 30 dias o Congresso Nacional se reúne e escolhe, por vias indiretas, o novo Presidente da República.
Diante deste cenário, haverá alguém que poderá acreditar em perspectiva de melhora? As crises política e econômica vividas pelo Brasil não são, nem de longe, tão graves quanto a crise moral que enfrentamos.
Nosso país, possuidor de proporções continentais, de recursos naturais abundantes, de mão-de-obra em grande volume, em vez de seguir o caminho da educação, com capacitação profissional e desenvolvimento economicamente sustentável, vê seus governantes caminhando para o lado oposto: políticas assistencialistas, que fazem com que os cidadãos mais humildes acreditem que o benefício de curto prazo é melhor que o desenvolvimento a médio e longo prazos; violência com índices dignos de uma guerra civil; presença maciça em rankings como “violência doméstica” e “violência LGBT”. Quando aparecemos em rankings que tratam de educação ou qualidade de vida, quase sempre estamos mais perto do fim da lista. E por qual motivo isso acontece? Má gestão da “coisa” pública.
Após quase trinta anos sendo conduzido por uma Constituição elaborada em um momento delicado, após duas décadas de um regime político equivocado, o Brasil pede socorro: não há mais como pagar as contas. O dinheiro, além de insuficiente, vem sendo constantemente subtraído por agentes públicos que não apenas deveriam zelar pelo dinheiro, que advém do povo, mas também, utilizar seus talentos – caso esses cargos fossem realmente técnicos, para sanar problemas. Como muitos desses cargos são usados para fins políticos, para acomodar apadrinhados, o que se vê é gente despreparada e mal-intencionada desviando recursos e criando novos problemas.
Foi nisso que a nossa “terra boa e gostosa” se transformou. Ou foi transformada.
Para onde este grande barco, ora à deriva, poderá ir? O que será de nós?
Façam as suas apostas.
E que Deus tenha piedade de nós.

*Presidente da Academia Brasileira de Escritores