Depois de seis meses de mandato, Donald Trump volta brevemente sua atenção para Cuba. Em uma ordem executiva planejada com congressistas como Marco Rubio e Mario Díaz-Balart – ambos de ascendência cubano-americana – o Presidente Trump foi à Flórida assinar uma ordem que seria o primeiro passo para voltar atrás na normalização promovida por Obama. Ou, pelo menos, foi vendida dessa forma.
O principal efeito da ordem executiva é proibir transações financeiras entre empresas dos Estados Unidos com empresas cubanas que sejam controladas pelos militares da ilha. Também foram limitadas as formas com que o turismo de cidadãos americanos pode ser feito para Cuba.
Mais importante que o efeito da ordem é sua a simbologia. A assinatura foi feita em Miami, cidade onde vivem cubano-americanos de viés mais linha-dura contra o governo de Cuba. O evento foi o palco ideal para garantir a continuidade do apoio a Trump prestado por esses grupos que foram contra a iniciativa de normalização promovida pela administração anterior.
Vale lembrar que, apesar de hoje representarem em menor escala os interesses da comunidade cubano-americana, historicamente, grupos organizados de anti-castristas dissidentes sempre trabalharam em função de pressionar os Estados Unidos para adotar uma política mais austera contra o governo da Revolução cubana. Em momentos anteriores da história do país, a participação desses grupos foi chave para a definição das estratégias de política externa dos Estados Unidos para Cuba, como na transformação do embargo econômico em Lei Federal.
Embora menos proeminentes em sua capacidade de influência política, esses segmentos da comunidade cubano-americana apoiaram Trump em sua campanha presidencial em troca da garantia de um retrocesso no processo de normalização promovido por Obama.
Em termos de holofotes, a assinatura do novo ato foi uma oportunidade para “cumprir” com essas promessas, mas, na prática, considerando o tamanho da flexibilização promovida por Obama, ela ainda não está perto de ser revertida. As embaixadas, que estavam fechadas desde a década de 1960, foram reabertas em 2015 como o primeiro e mais importante passo da administração Obama para a normalização e a nova estratégia de Trump, por enquanto, mantém essa decisão. Ao mesmo tempo, o clima interno de Cuba enfraquece a utilização de uma retórica mais dura contra a ilha, visto que o governo está se preparando para que em 2018 Raúl Castro deixe o poder e eleições sejam convocadas.
Apesar de revestida de um discurso duro tradicional para Cuba, a estratégia de política exterior de Trump ainda não é uma reversão completa da normalização promovida por Obama. O resultado disso é que, por ora, as relações de política exterior entre os dois países não apresentam grandes mudanças, exceto a retomada de um tom mais austero.
*Relações Internacionais pela PUC-MG