Som e dança nos corredores do Hospital Regional (HR), em Presidente Prudente, causaram desconforto a pacientes internados na unidade de saúde pública que pertence ao governo do Estado. Entre eles, está o pai do funcionário público municipal José Claudinei da Silva, de 52 anos. O idoso, de 80 anos, está hospitalizado na ala médica geral em fase terminal em decorrência de um câncer.
Inconformado com a situação, José Claudinei da Silva, inclusive, registrou um Boletim de Ocorrência na Delegacia Participativa da Polícia Civil pela contravenção penal de perturbação de tranquilidade. O documento foi enviado ao G1 nesta quinta-feira (1º).
O funcionário público informou à polícia que seu pai está internado no HR, em estado terminal em decorrência de um câncer, e que, por volta das 21h desta segunda-feira (29), funcionárias do hospital, acompanhadas de alguns freis, que fazem parte da Associação Lar São Francisco de Assis na Providência de Deus, Organização Social de Saúde (OSS) que administra o HR, começaram a dançar “zumba”, conforme descrito no Boletim de Ocorrência.
“O som era muito alto para um hospital com pacientes internados”, declarou Silva no registro policial. Segundo ele, a música era proporcionada por uma caixa de som e o ato foi realizado em todo o prédio. “Familiares de pacientes se incomodaram com o que viram e filmaram a ação”, inclusive Silva, que cedeu as suas imagens ao G1 (veja vídeos abaixo).
De acordo com o Boletim de Ocorrência, Silva “interpelou um frei e pediu para que fosse abaixado o som, porém, ele disse que não seria abaixado, o que motivou uma discussão e a polícia foi chamada”. A Polícia Militar compareceu ao hospital, mas não pôde ingressar na unidade de saúde e atendeu Silva na área externa do estabelecimento.
‘Foi desorganizado e desordenado’
Ao G1, José Claudinei da Silva relatou que foi ao hospital para ficar como acompanhante do pai, que está em estado terminal devido a um tumor maligno que surgiu na bexiga, somado a uma pneumonia.
“Quando cheguei, ouvi o barulho e perguntei para uma funcionária o que estava acontecendo. Ela disse que era uma tal de zumba que havia começado”, contou. O homem subiu ao quinto andar e, após cerca de 20 minutos, “o som ensurdecedor” chegou até eles.
“Fui ficando nervoso, meu pai… Todos. No quarto do meu pai, todos foram contra”, afirmou.
Silva começou a questionar o ato e “alguém” lhe disse que era para alegrar o hospital, porém, “não era a forma, porque estava muito alto”, salientou ao G1 o funcionário público. “Por exemplo, os palhaços eu admiro. Então, depende da atividade”.
O homem tentou desligar o som, mas não obteve êxito, então, questionou um frei e acabou se alterando, segundo relatou ao G1. O fato fez com que funcionários ameaçassem chamar os seguranças e Silva acionou a Polícia Militar, que o orientou quanto ao registro do Boletim de Ocorrência.
“Talvez eu tenha me alterado, mas não fui só eu. A algumas pessoas agradaram, como as crianças, mas tem gente que não gosta, como alguns evangélicos, idosos e pessoas em fase terminal, como o meu pai. Foi desorganizado e desordenado”, destacou.
“No mínimo, eles deviam ter consultado os pacientes antes”, disse ao G1.
Local de silêncio
“Venhamos e convenhamos, desde quando me conheço por gente, em hospital, tem aquele cartaz pedindo silêncio, a ambulância, quando chega perto do hospital, desliga a sirene, e lá dentro aquela baderna?”, ressaltou o funcionário público.
“Eu estava lá perdendo meu pai e uma situação daquela?”, questionou José Claudinei da Silva.
O funcionário público se diz “totalmente inconformado”. “Vai fazer uma escola de samba para passar pelos corredores do hospital? Com certeza, se eu estivesse com o som do meu celular, eles reclamariam. Ali é um lugar de paz, onde a pessoa está para se recuperar”, finalizou ao G1.
Outro lado
Por meio de nota, o HR informou ao G1 que a atividade foi realizada como intervenção de humanização em cinco clínicas da unidade, no período das 19h30 às 20h10.
“O objetivo da intervenção foi de desmitificar a figura do profissional da saúde sempre relacionada em momentos de dor aos pacientes e proporcionar um momento atípico de alegria e descontração, tanto aos pacientes internados, quanto aos acompanhantes, que chegam a passar semanas em um ambiente hospitalar”, explicou ao G1.
Conforme a unidade de saúde, não houve reclamação formal sobre a ação, que foi vista como “positiva pelos acompanhantes, que durante a apresentação do grupo externaram sua satisfação e alegria”.
“Em nenhum momento a unidade teve a intenção de prejudicar os pacientes ou acompanhantes, tendo em vista que a saúde destes é prioridade. No entanto, respeitamos a manifestação e entendemos que ações de humanização podem não agradar a todos”, afirmou o HR ao G1, ainda em nota.