As últimas décadas foram repletas de mudanças na sociedade, de uma forma tão intensa, que talvez não tenha ocorrido antes. Nosso mundo globalizado possibilita chegarem rapidamente pensamentos e fatos, de uma parte a outra do mundo, especialmente com o advento das redes sociais.
Tivemos muitos progressos no campo social e político, onde problemas e situações, mantidas até então em sigilo, vieram à tona. Também as coisas boas obtiveram espaço para sua divulgação, embora não na mesma proporção. Talvez por serem “menos” impactantes ou fora do interesse frenético de nosso tempo.
Nesse contexto, o tema da família entrou numa ampla discussão em âmbito civil e religioso. Esse debate, quase sempre, se fundamenta em argumentos afetivos que visam sensibilizar as pessoas, qualquer que seja o lado, pensado e defendido por elas. Poucas são as contribuições que levam em conta a história da humanidade como um todo, e mesmo a função social da família a partir de dados científicos.
O dilema gravita sobre a questões como: aceitar é concordar? Tolerar é dar legitimidade à posição do outro? E tais questões se fundem numa discussão infinita. No último ano, a Igreja Católica, também já preocupada há décadas com esse tema, recebeu como presente a publicação da Encíclica Amoris Laetitia, a alegria do amor em família, do Papa Francisco, que trata da dimensão positiva da família. O documento é uma contribuição para toda a sociedade, pois suscita a reflexão sobre um tema muito importante.
Para aprofundar esse assunto, a Semana Nacional da Família, de 13 a 19 de agosto, tem como tema: Família, uma luz para a vida em sociedade. Normalmente, as análises sociais são feitas a partir da sociedade, em busca de identificar seus problemas e possíveis soluções. No entanto, a proposta é de olhar para a sociedade positivamente, buscando encontrar na família a nascente da verdadeira vida social. É certo que a palavra família é capaz de provocar diferentes sentimentos e lembranças, dependendo da pessoa e sua história de vida, e isso não se refere somente ao passado, mas aos sonhos e projetos de futuro.
A família possui problemas, fragilidades e situações carentes de aperfeiçoamento, mas é inegável seu papel e importância para a sociedade, é uma escola de valores. É nessa instituição que se aprendem as orientações básicas da vida como o afeto, a convivência, a educação para o amor, a justiça e experiência de fé. É no ambiente familiar saudável que o coração de cada pessoa se equilibra, pois ali se alicerçam a responsabilidade e o compromisso, se exercitam o amor e o perdão, aprende-se a dialogar.
O cuidado com a família precisa ser prioridade de toda a sociedade, mas isso não substitui a necessidade de que cada um cuide bem do ambiente interno de sua família. Esse cuidado parte do não exigir do outro a perfeição que não possui, saber equilibrar as expectativas em relação a cada um, sem querer fazer cumprir a vontade pessoal apenas. É saber que a felicidade numa família é uma conquista, exige dedicação, atenção e doação de todos. É o amor vivido que leva a suportar com paciência o processo de crescimento do outro, desculpar suas falhas, alegrar-se com a realização alheia sem nutrir inveja, realizar-se na felicidade do outro. A família é como um jardim composto por cores diferentes, cada planta dá o melhor de si para que todo o jardim possa ser belo e assim todas participam da mesma beleza.
Somos convidados, nesta semana, a nos importarmos com aqueles que mais importam ou se importam conosco, para que nossa família possa ser também uma luz para a sociedade de nosso tempo.
* Membro da Comunidade Canção Nova e assessor da Comissão Episcopal Pastoral para Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), mestre em Ciências Bíblicas e Arqueologia