Mesmo com algumas mudanças, os juros ainda são altos no Brasil. As empresas que precisam financiar giro e fluxo financeiro enfrentam grandes riscos de falência. Muitas vezes empresários acabam utilizando o cheque especial e cartão de crédito como uma fonte de financiamento nos negócios, transformando suas empresas em verdadeiras filiais dos seus fornecedores de recursos.

Os bancos compram dinheiro barato e vendem mais caro. É como qualquer outro negócio, que precisa de margem de lucro. Aquele dinheiro depositado em investimentos de renda fixa ou na previdência privada, por exemplo, é utilizado para emprestar para outros, que pagam juros mais altos. Esta diferença cobre os custos do banco, a inadimplência (clientes não pagantes) e a expectativa de lucro.
Muitas vezes, pega-se dinheiro do cheque especial disponível na conta corrente da empresa para repor estoque, por exemplo. O problema começa quando a venda desta mercadoria e as respectivas margens de lucro não cobrem os juros do dinheiro emprestado. Neste ponto o empresário começa a andar na contramão do empreendimento.
Empreender significa identificar oportunidades e transformá-las em negócios, e destes, gerar empregos e renda. Neste caminho, atentar-se ao comportamento do consumidor alvo, a comunicação e relacionamento com o mercado, parceiros, entre outros é fundamental. No entanto, a organização e estrutura financeira devem ser mantidas com rigor para mantê-las equilibradas e evitar os indesejados “passos maior que a perna”.
Sistemas informatizados são utilizados, na maioria vezes, somente para legalizar a empresa quanto à emissão de notas fiscais eletrônicas e escrituração eletrônica contábil. Contudo, pouco das informações geradas são utilizadas para melhorias nas decisões gerenciais. Orçamentos, contas a pagar e receber, estoque, entre outros, são controles valiosíssimos que podem alertar o empresário a tempo de tomar decisões corretivas, antes que os financiamentos de alto custo se tornem a única opção.
Por fim, financiamento não é algo proibido. Pelo contrário, há diversas linhas como BNDES, FINAMES e até linhas nos bancos privados que oferecem recursos a juros que cabem no bolso do empresário. Estes recursos permitem alavancar os negócios quando bem administrados. O cheque especial e cartão de crédito não foram feitos para suportar as atividades da empresa, e sim, em último caso e por pouco tempo. Quando utilizados de outra forma transformam as empresas clientes em “filiais” de bancos.

Consultor de empresas e colunista da FGV/ABS de Presidente Prudente*