A fotojornalista e repórter de guerra Gerda Taro está consagrada na seleta elite feminina mundial que nos blindou com seu olhar refinado, agudo e sensível na cobertura dos conflitos bélicos contemporâneos. 

Nascida Gerta Pohorylley, em 1910, em uma família judia polonesa da Alemanha, desde adolescente identificou-se com os movimentos revolucionários e, com a ascensão nazista, foge para Paris no final de 1933, onde trabalha como datilógrafa para René Splitz (psicanalista). No ano seguinte conhece o judeu húngaro Endre Ernö Friedmann, que vivia de seu trabalho como fotógrafo e mostrou-lhe as possibilidades que a fotografia oferecia para ver e viver o mundo.
Como o ofício não rendia o suficiente para sobreviver, Gerda teve a ideia de criar uma personagem que fosse estadunidense, fotógrafo famoso que ofereceria suas fotografias para as revistas e jornais. Nascia o alter ego de Gerda e Endre: o mito Robert Capa. Nascia compartido entre os dois, não era apenas ela ou ele. Mudou seu nome para Gerda Taro, transformando-se na representante comercial de Robert Capa na França. E vendia as fotos que ela e Endre faziam, por um preço três vezes mais caro do que um fotografo francês cobrava.
Com o início da Guerra Civil Espanhola, em 17 de julho de 1936, Gerda, Endre e Robert Capa seguem primeiro para Barcelona, depois para o front de Aragón, Madrid e Córdoba. Nesta última, registraram a foto mais famosa do personagem Robert Capa, a “morte de um miliciano”, que se sugere tenha sido tirada por Gerda, o que é provável.
Depois de registrar a Frente de Brunete, uma das mais sangrentas da Guerra civil espanhola, afirma: “Quando pensas em toda essa gente que conhecemos e morreram nessa ofensiva, tem o sentimento de que estar viva é algo desleal.”
Alguns dias antes de completar seus 27 anos, Gerda está novamente na Frente de Batalha de Brunete, local em que registrou momentos emblemáticos do conflito já marcados com sua nova assinatura, Photo Taro. Terminado um embate entre as duas facções e retornando do front republicano, no Jipe da Brigada Internacional, são atacados pelos aviões nacionalistas. Gerda, que se encontrava em pé, cai do automóvel e é atropelada por um tanque da própria Brigada que tentava manobrar para trás evitando as bombas que caiam. Atendida no Hospital de campanha inglês d”El Escorial, falece horas depois.
Em Paris, no dia 1 de agosto de 1937, data em que Gerda completaria anos, Endre aguardava a companheira que, certamente, viria empunhando sua câmera Reflex Korelle. Não veio. Seu corpo foi transladado para Paris e enterrado no cemitério de Père-Lachaise e recebeu honrarias pelo Partido Comunista, como heroína e mártir, ainda que não pertencesse às listas desse partido e fosse anarquista por ideologia.
Nestes 80 anos de morte de Gerda Taro, algumas exposições são obrigatórias. Por exemplo, a Prefeitura de Córdoba e o International Center of Photography (ICP) organizam a exposição “La maleta mexicana. Negativos redescubiertos de la Guerra Civil Española”. A maleta mexicana foi encontrada em 2007 contendo 4,500 negativos de 35 mm da Guerra Civil Española de Gerda Taro, Robert Capa y Chim (David Seymour) — considerados desaparecidos desde 1939.
Alguns afirmam que Gerda Taro ficou no ostracismo, mas preferimos pensar que a imortalidade de suas imagens, registrando momentos tensos do limite humano não se apaga. Ao contrário, crava na mente, crava na pele, emocionadas. O ineditismo de sua visão dos confrontos, de seus registros de mulheres em ação no front induzem a beleza estética onde parece não haver racionalidade, a guerra

*Jornalistas