A discussão por causa de uma garota pode ter sido a causa do tiro disparado por um policial militar contra o estudante Diogo Belentani, 21 anos, morto na noite de 15 de julho em uma casa na rua Baguaçu, em Araçatuba. A jovem manteria relacionamento amoroso com o acusado e com a vítima. A informação consta em denúncia apresentada pelo Ministério Público à Justiça na terça-feira (19). Com base em inquérito da Polícia Civil, o promotor de Justiça Adelmo Pinho denuncia o acusado por disparar arma de fogo em lugar habitado, cuja pena pode chegar a quatro anos de prisão.

O crime é previsto no estatuto do desarmamento e a Promotoria de Justiça pede que a pena seja aumentada pela metade, devido ao denunciado ser policial militar, conforme prevê a legislação. Ele também foi denunciado por homicídio qualificado, por ter dificultado a defesa da vítima, cuja pena que pode chegar a 20 anos de prisão, e por fraude processual, devido à cena do crime ter sido alterada antes do socorro ao estudante. Nesse caso, a pena máxima é de dois anos de detenção.

CIÚMES
A possível relação entre o homicídio e o ciúme por parte do policial devido à garota que ambos mantinham relacionamento surgiu já no final das investigações. Segundo o que foi apurado pela reportagem, ela teria estado com Belentani e com o acusado dois dias antes. Também foi apurado durante a investigação que a jovem teria sido alertada que o estudante poderia ser assassinado pelo policial caso continuasse com o duplo relacionamento amoroso. 

Outra informação apurada pela reportagem é que após a vítima ter sido baleada, uma das testemunhas presentes na residência telefonou para a jovem e se encontrou com ela em uma lanchonete.

CASO
Consta na denúncia que na tarde de 15 de julho, o policial efetuou disparos de arma de fogo na residência onde naquele momento havia outras duas pessoas, ou seja, a avó dele e o estudante. 

Naquele dia, o acusado se reuniu com Belentani e outros dois jovens, e todos ingeriam bebida alcoólica. O acusado e a vítima estavam no local desde o início da tarde, enquanto os outros dois rapazes chegaram depois.

Durante o período em que estiveram juntos, o estudante e o policial passaram a conversar sobre mulheres, inclusive sobre a jovem que se relacionava com os dois. Eles já teriam discutido no último carnaval por causa da garota.

E, segundo a denúncia, já no início da noite do crime, a jovem teria enviado uma mensagem pelo aplicativo Whatsapp ao estudante, na qual o ofendeu. Sete minutos mais tarde, o policial enviou uma mensagem a ela, na qual a chamou de “amor”.
O tiro que matou Belentani foi disparado por volta de 20h30, ou seja, cerca de meia hora depois do envio da mensagem do policial para a garota. 

De acordo com a denúncia, o acusado pegou a pistola repentinamente e, com a intenção de matar, atirou no estudante, que foi atingido no dedo indicador da mão direita, enquanto tentava se defender, e no lado esquerdo do peito, provocando a morte por hemorragia aguda interna.

“O crime foi cometido mediante recurso que dificultou a defesa da vítima, já que o indiciado se apoderou repentinamente da arma de fogo e de inopino disparou contra o ofendido, que foi apanhado desprevenido, sem chance efetiva de defender-se”, consta na denúncia.

FRAUDE
Após o disparo, o policial pediu às testemunhas que dissessem que a vítima tinha cometido suicídio, o que teria sido aceito por uma das testemunhas e recusado pela outra. Com medo, o jovem que concordou com o pedido telefonou ao Corpo de Bombeiros e comunicou um suicídio. A cena do crime foi alterada, com a arma sendo colocada na mão direita da vítima, segundo a denúncia, para de induzir a erro o juiz ou o perito.

Ministério Público pede prisão preventiva do acusado

Junto com a denúncia, a Promotoria de Justiça pediu que seja decretada a prisão preventiva do acusado, que está preso temporariamente no presídio militar Romão Gomes, em São Paulo. “Este cometeu crime gravíssimo, de natureza hedionda – homicídio doloso qualificado, o qual é insuscetível de liberdade provisória. Há provas nos autos de que o indiciado também praticou os crimes de disparo de arma de fogo e fraude processual, e tentou com isso enganar a Justiça”.

O MP argumenta que o policial demonstra personalidade dissimulada e impulsiva, pois intimidou uma testemunha para que mentisse em seu favor, para tentar alterar a verdade dos fatos e sustentar a falsa tese de suicídio e negar sua autoria no crime de homicídio. “Se solto, com esse perfil, poderá ameaçar testemunhas e colocar em risco a ordem pública, além de ser a prisão conveniente para a instrução criminal e para a aplicação da lei penal”.

Caberá à Justiça decidir se aceitará ou não a denúncia e decretar a prisão preventiva do acusado. Caso ela seja aceita, a defesa deve ter dez dias de prazo para responder à acusação e o policial poderá ser pronunciado para responder aos crimes em julgamento pelo Tribunal do Júri.

A reportagem não conseguiu contato com o advogado Fabrício Antunes Correia, responsável pela defesa do PM, para comentar a denúncia. Após a reconstituição do crime, em 31 de agosto, ele afirmou que a arma estava sobre uma mesa que seria utilizada para uma partida de truco pelos jovens e que não houve discussão ou qualquer fato que indicasse intenção de atirar, tendo ocorrido um acidente.