Pelo Hino Nacional, aqui no Brasil, gigante e impávido colosso, tudo é plácido, heroico, retumbante e fúlgido. Vivemos todos a igualdade, a liberdade, um sonho imenso, um raio vívido. Nosso céu brilha sempre risonho e límpido, porque nos sobram paz no futuro e glória no passado.

E será que o nosso presente espelha essa grandeza? Com perversa distribuição de renda, corrupção e tantos filhos deste solo sem terra, sem teto e sem trabalho, podemos chamar a pátria de mãe gentil? É verdade que a população, nessa crise toda, não foge à luta e nem teme a própria morte.
Seria o caso de mudar o Hino? Melhor mudar a leitura que fazemos dele. Se ele é ideológico ao cantar uma falsa realidade, podemos entoá-lo, assim mesmo, para afirmar o compromisso de trabalho e resistência por um país melhor. E o 7 de Setembro que vem aí oferece para tanto boa oportunidade. Dependentes de graves problemas, como celebrar a Independência? Pessoas e instituições conscientes e ativas têm propostas. Cito duas de peso histórico e suprapartidário.
A primeira pode parecer confessional, mas é da mais ampla abrangência. Falo do convite lançado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil aos cristãos e a todas as pessoas que querem um Brasil mais justo e mais fraterno, para que se unam numa “Jornada de Jejum e Oração pelo País”: “Nós estamos necessitados de um Brasil mais ético, de uma política mais transparente. Não podemos chegar ao impasse de achar que a política pode ser dispensada. Pelo comportamento de muitos políticos, ela está sendo muito rejeitada. Nós esperamos que esse dia de oração e de jejum ajude a refletir sobre essa questão, em maior profundidade”.
Assustou-se com o jejum? Mas jejum não é só de comida e bebida. Pode ser também de projetos antipopulares, de obras faraônicas, de votos comprados, de juízos maldosos, de preconceitos partidários e até mesmo de palpites pessimistas, que só agravam a depressão nacional. Por outro lado, oração não custa nada para quem mantém vida interior. E é tão bom alimentar com preces a esperança de dias melhores.
Outra proposta acontece, desde 1995, por todo o País, em comemoração do Dia da Independência, o “Grito dos Excluídos”. Neste ano, em que o próprio sistema democrático está em crise, o lema da campanha é “Por direitos e democracia, a luta é todo dia”, destacando três eixos: democracia, direitos e luta.
Esse movimento não tem dono. Não pertence às Igrejas nem aos sindicatos e a nenhuma liderança política. Trata-se de manifestação coletiva, feita de celebrações, atos públicos, romarias, caminhadas, seminários, teatro, música, tudo para que venha a público a voz reprimida dos mais vulneráveis da sociedade. Um grito que brota do chão da vida popular, por uma sociedade mais justa e solidária, com denúncia dos mecanismos oficiais que venham a retirar direitos dos trabalhadores em prol dos interesses do mercado e com propostas de caminhos para um país mais inclusivo.

*Mestre em Filosofia e Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma