Mas, o que é essa tal de Reforma?

 Reformar é renovar, corrigir as depreciações provocadas pelo tempo e deformações em consequência dos ataques de depredadores, internos e externos. O termo “reforma” serve para ilustrar a Igreja como uma edificação; isto é, uma instituição edificada por Jesus Cristo sobre a fé de Pedro; proeminente apóstolo. Evitando-se qualquer exclusivismo sobre este tema.

A Igreja sofreu com as deformações da sedimentação das tradições e a opressão da tirania humana. A Reforma Protestante aconteceu porque a humanidade clamava por libertação da supremacia política religiosa e hegemônica do papado romano; o qual subjugava a sociedade e todas as formas de expressão do conhecimento: religioso, artístico e científico.

A Reforma, a priori religiosa, foi tão abrangente quanto é a Igreja em seu caráter “católico”; que quer dizer universal. Nesse sentido, a Reforma não foi simplesmente o surgimento dos protestantes; abrangeu toda humanidade. Alcançou todas as áreas: espiritual, social, cultural, política e econômica.

No dia 31 de outubro de 1517 o monge agostiniano Martinho Lutero convocou um debate público, afixando na porta da catedral de Wittenberg suas 95 Teses Contra o Comércio de Indulgências. Com este ato desafiou a autoridade do Papa. Dalí a humanidade avançou da quebra da hegemonia dos poderes dominantes à conquista da liberdade democrática.

A Reforma inaugurou a modernidade. Mas, a humanidade, ainda continua espiritualmente carente de conversão; pois em muitos aspectos ela ainda precisa avançar na construção de um mundo melhor para todos, um novo mundo de justiça social e de paz. Por isso o slogan da Reforma é “Igreja Reformada Sempre Reformando”. 

O papa Leão X resistiu às propostas reformistas de Lutero. Após a sua morte a Igreja Católica Apostólica Romana reconheceu a necessidade de reformas urgentes e convocou o Concílio de Trento (1545-1563). O último concílio foi convocado por João XXIII, o Papa que foi considerado como um grande reformista. Mas, infelizmente, as ideias reformistas eram muito rejeitadas. Hoje, a necessidade de grandes reformas é consensual, mas a sua profundidade e abrangência ainda gera muita polêmica.

Neste ano celebramos os 500 anos da Reforma proposta por Lutero, a qual tendo sido rejeitada seguiu a sua proclamação: “Nossa consciência está cativa a Palavra de Deus. Aqui permanecemos nós” (Lutero). Isso significa que as igrejas protestantes ou evangélicas são perfeitas? Absolutamente, não. Aqui permanecemos nós, simplesmente, porque buscamos a Bíblia, um livro de leitura proibida pela Igreja Romana no passado, entre outros livros proibidos no Index Librorum Prohibitorum.

Em 1996, cerca de cem pastores da Aliança de Evangélicos Confessionais buscaram analisar o que havia de errado com os evangélicos. Entre ele, James Montgomery Boice, disse que “na falta de uma teologia sadia, bíblica, bem entendida, os evangélicos foram apanhados como presas do pragmatismo e consumismo de nossos dias”.

Assim, eles propuseram uma declaração (A Declaração de Cambridge) que buscava resgatar a essência da Reforma Protestante diante da crise no meio evangélico. Essa essência foi expressa nos famosos “5 Solas”. Hoje, enfrentamos uma situação similar e somos chamados, como discípulos de Cristo, a permanecer nessas verdades fundamentais da Palavra de Deus:

Sola Scriptura: Em meio à tirania da sabedoria mundana, permanecer na Escritura Somente.  Sola Gratia: Em meio à opressão da autoajuda, permanecer na graça somente. Sola Fide: Em meio ao jugo da religiosidade, permanecer na fé somente. Solus Christus: Em meio à manipulação dos falsos senhores, permanecer em Cristo somente. Soli Deo Gloria: Em meio à idolatria do orgulho, permanecer em glorificar a Deus somente.

Essa Reforma é nossa; cada um de nós deve se inspirar nela, e, tornar-se um reformador em seu próprio contexto; em todas as áreas: espirituais, culturais e sociais.

* Graduado em Teologia e mestrando em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.