O pai do adolescente que abriu fogo contra colegas em uma escola de Goiânia na manhã desta sexta-feira (20), foi ouvido de forma preliminar pelo delegado do caso agora à noite. A coordenadora do colégio também prestou depoimento. Ela foi a responsável por acalmar o adolescente após o ataque que deixou dois mortos e quatro feridos no Colégio Goyazes, no bairro Conjunto Riviera.
Ao sair da sala após efetuar os disparos, o estudante encontrou a coordenadora da escola que começou a acalmá-lo. Ele chegou a apontar a arma contra a própria cabeça, mas a coordenadora conseguir evitar o suicídio e convenceu o estudante a esperar a polícia com ela na biblioteca da escola. O adolescente foi apreendido em flagrante delito e segue sob custódia do estado.
No depoimento que prestou durante a tarde, o autor dos disparos, um adolescente de 14 anos, disse que foi motivado por bullying e que se inspirou nos casos da escola de Columbine (ocorrido em 1999, nos Estados Unidos), e de Realengo (em 2011, no Rio de Janeiro). Há cerca de três meses, ele teria começado a pesquisar informações sobre esses ataques a estudantes na internet. Ele afirmou que começou a planejar a ação há três dias e que teria chegado a desistir.
Os dois policiais militares que foram os primeiros a chegar no local também foram ouvidos. O delegado Luiz Gonzaga, da Delegacia de Apuração de Atos Infracionais da Polícia Civil de Goiás, vai retomar os depoimentos na segunda-feira. Familiares e professores da escola devem ser ouvidos.
As vítimas
Os dois estudantes que morreram no local do ataque tinham 13 anos. Um dos jovens, segundo o autor dos disparos, era quem praticava o bullying contra ele. Os quatro feridos, que continuam internados, todos têm 13 anos de idade. Uma adolescente está em estado gravíssimo. Ela foi atingida por três disparos: um na mão, um no pescoço e outro no tórax. A menina passou por cirurgia para drenagem do tórax. A outra menina ferida teve um pulmão perfurado e também foi submetida a procedimento cirúrgico, mas está estável e respira sem ajuda de aparelho.
A terceira vítima, do sexo masculino, está estável e segue em avaliação. Os três estão internados no Hospital de Urgências de Goiânia e as informações sobre o estado de saúde deles foram divulgadas pelo diretor técnico do hospital, Ricardo Furtado Mendonça, no fim da tarde desta sexta-feira. A quarta vítima, também um menino, não teve o boletim médico divulgado.
O ataque
O ataque ocorreu por volta das 11h30. A arma usada foi uma pistola que pertencia à mãe do adolescente, que é policial militar. O jovem disse que achou a pistola escondida em um móvel da casa. Nem a mãe nem o pai, que também é policial militar, ensinaram o adolescente a atirar.
Ao retirar a arma da mochila para começar o ataque, ele chegou a efetuar um disparo acidental, mas não se feriu. O disparou assustou a todos e, então o adolescente se dirigiu ao colega que ele identificava como seu desafeto e atirou. O estudante tinha 13 anos e morreu no local. No depoimento, o autor dos disparos narrou que tinha intenção de matar apenas o colega que o “amolava”, mas no momento do ataque, diante do desespero das pessoas e também abalado, continuou atirando. A segunda vítima fatal, que faleceu no local, era seu amigo.
Por volta das 11h48, gravações de áudio já circulavam nos grupos de whatsapp de pais de alunos e funcionários do colégio avisando sobre a tragédia e pedindo que ninguém fosse para o colégio. Era o horário de saída do turno da manhã e alguns pais já chegavam ao local para buscar os filhos.
Repercussão e investigação
Durante a tarde, o governo de Goiás decretou luto oficial de três dias “em solidariedade a todos os envolvidos no lamentável acontecimento”, conforme nota. Dirigentes das secretarias de Segurança Pública e de Saúde se reuniram com o governador em exercício de Goiás, José Eliton. Eles afirmaram que deve ser nomeada uma equipe multidisciplinar para acompanhar as famílias das vítimas.
A Polícia Civil periciou o local do ataque durante a tarde e também realizou busca e apreensão na casa do adolescente autor do disparos. O delegado não quis informar o que foi apreendido para preservar a investigação. Os nomes dos jovens envolvidos também não foram divulgados para preservar as famílias.
Vizinhos, ex-alunos e parentes de estudantes fazem uma vigília em frente ao colégio na noite desta sexta-feira. Cerca de 80 pessoas acenderam velas e depositaram flores no local. O colégio funciona no bairro há cerca de 25 anos com turmas do maternal até o nono ano do ensino fundamental.