Muitas vezes somos defrontados com a questão: no novo mundo ‘digital’, bibliotecas públicas ainda seriam necessárias?

Nosso imaginário de biblioteca ainda está normalmente ligado à ideia de biblioteca como centro de conservação de documentos impressos. Muitas vezes nossa melhor imagem de biblioteca corresponde à “biblioteca do rei”, às belas imagens de bibliotecas de séculos passados com suas imponentes estantes de madeira trabalhada que abrigam volumes antigos e carregam um ar sagrado, de um saber quase inacessível. Outras vezes – muito mais do que gostaríamos de admitir – somos assombrados pela nossa pior imagem de biblioteca: prédios de aspecto sombrio, mal conservados, abrigando espaços escuros onde mal cabem pessoas entre muralhas de livros velhos, roídos e empoeirados e que não podemos manusear sem passar antes por um balcão onde somos interrogados sobre o que queremos – embora muitas vezes não saibamos exatamente o que queremos.

Algumas vezes nos vem à mente a lembrança de alguém que nos encantou com histórias, aguçou nossa curiosidade sobre as coisas do mundo e nos pôs em contato com conteúdos e com pessoas.  Alguém que nos animou a construirmos nosso conhecimento. A biblioteca pública contemporânea corresponde mais a esta última imagem.

É verdade: nunca estivemos expostos a tanta informação. Talvez por isso mesmo nunca precisamos tanto de boas bibliotecas públicas como hoje! Bibliotecas que funcionem como equipamento multicultural que coloca acervos de natureza diversa a serviço da construção autônoma do conhecimento e do contato com a literatura enquanto herança cultural e reflexão sobre nossa própria humanidade.

No dizer de Miguel Figueroa, da Associação Norte-Americana de Bibliotecas, a biblioteca, seja em seu espaço físico, seja por meio de seus recursos digitais, deve ser um equipamento baseado na comunidade e que coloca as pessoas em contato para criar. Ou, como declarou KariLämsä da Biblioteca 10 de Helsinqui: «ao invés de projetar um espaço apenas para ter acesso a conteúdos, criamos um espaço para que se criem conteúdos».

Em torno dessa ideia de biblioteca pública contemporânea – de biblioteca viva – é que se constrói a política de bibliotecas e leitura da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo. Duas bibliotecas laboratório – a Biblioteca de São Paulo e a Biblioteca Parque Villa-Lobos – modelam experiências de biblioteca e promoção de leitura e articulam-se com o SisEB (Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas), um programa estadual de apoio às mais de 800 bibliotecas públicas municipais do Estado. Por meio deste programa promovem-se ações de capacitação (presencial e por meio de ensino à distância) das equipes de bibliotecas. Promovem-se também programas como o Viagem Literária, levando o melhor da produção literária nacional pela rede de bibliotecas para estimular a programação cultural local.

Nos próximos dias 23 a 25 de Outubro, São Paulo promoverá o 10º Seminário Internacional de Bibliotecas Públicas – Biblioteca Viva, aberto a todos os interessados. A discussão tem colocado em foco o que de melhor se está produzindo no mundo das bibliotecas. Um momento ímpar em que pessoas ligadas à leitura, à cultura e às bibliotecas de acesso público discutem como realizar com excelência o papel destinado às bibliotecas públicas contemporâneas.

 

 

* Secretário da Cultura do Estado de São Paulo