Uma das grandes chateações da vida ocorre quando você se dá conta de que, em determinado momento, alguém lhe passou uma nota falsa. A perda total, em situações assim, é inevitável. Não há como voltar àquele que a entregou em suas mãos, a título de pagamento ou troco, e estornar o prejuízo. Nem há meio de comprovar que você a recebeu de Fulano e não de Beltrano ou Sicrano.

Escapar passando à frente a falsificação é uma insanidade. Se aquele que recebe a nota falsa suspeitar que algo está errado, você, além de ficar sem aquele valor, será levado à polícia e terá a dura tarefa de convencer a autoridade que não imaginava que a cédula era falsa. Ficará sem o dinheiro, perderá horas preciosas do dia e, no final de tudo, dar-se-á por satisfeito se os danos ficarem por aí.

Há grande semelhança entre o dinheiro falso e a crítica injusta que alguém possa haver feito, pelas costas, à sua pessoa. Se cavoucar fundo, pode descobrir que o autor inicial da maledicência foi um conhecido, um empregado ou alguém de sua família. Como escreveu Montaigne, poucos homens são admirados pelos seus criados.

Se a fofoca estiver rolando há algum tempo, conforme-se. Investir contra ela, na tentativa de aniquilá-la, é reeditar o alucinado gesto de Dom Quixote, atacando um moinho de vento de lança em riste, sujeitando-se a ser apanhado e atirado ao ar por uma de suas pás.

Descarte o revide. Enfrentar quem fala mal de você falando mal dele, não apaga o incêndio, antes tende a ampliá-lo, torná-lo incontrolável e expô-lo a extensas e dolorosas queimaduras. Melhor deixar que as chamas se extingam por si mesmas.

*Jornalista