No dia 15/10/1827, D. Pedro I baixou uma lei criando o ensino elementar no Brasil. Muito tempo depois, na época do governo João Goulart, em 14/10/1963, por meio do Decreto Federal nº. 52.682, a data foi oficialmente reconhecida como feriado escolar para comemorar o dia do professor. De lá para cá, cada vez mais tem sido uma ocasião para prestar homenagens aos profissionais dedicados ao magistério. Isso é compreensível porque sempre há motivos para falarmos positivamente desta que é uma das profissões mais importantes no mundo atual.
Sem dúvida, ninguém chega a lugar algum, passando pelo caminho da educação formal, senão pelas mãos de muitos professores. Você, leitor, por exemplo, sequer poderia ler este artigo e, eu, tampouco, escrevê-lo, sem o trabalho de muitos docentes que nos ensinaram tantas coisas. O professor é, de fato, o mestre de todos os mestres e profissões.
Há, contudo, quem valorize mais o termo “educador” do que o de “professor”. Prefiro a segunda palavra, derivada do latim “profateri”, cujo conceito atualizado tem a ver com o profissional que representa o conhecimento e se dedica a ensiná-lo e aprendê-lo em comunhão. Isso é feito por meio do trabalho de proferir aulas e cursos em todos os níveis da educação, não raramente produzindo e socializando novos conhecimentos e orientando gerações para a vida em sociedade. Trata-se de uma carreira muitas vezes percebida como espécie de sacerdócio frente a dificuldades enfrentadas com criatividade e determinação no dia-a-dia, tanto dentro quanto fora da sala de aula.
Embora seja uma profissão de grande relevância social, muitos pais ainda insistem em estimular seus filhos a seguirem carreiras ligadas ao direito, à medicina e às engenharias. Isso também decorre da desvalorização da carreira ao longo da história do magistério no Brasil. “Você vai ser professor, meu filho?” – perguntam atônitos certos pais quando descobrem a escolha que o filho fez para o vestibular. Ou: “O filho da minha vizinha passou para Medicina” – cometam os parentes e amigos mais próximos frente aos pais que tiveram um filho aprovado no vestibular para um curso de licenciatura. Para muitas dessas pessoas, o professor é uma espécie de mendigo que vive de esmolas ou mesmo um subversivo baderneiro que faz greves e vai às ruas reivindicar melhores salários e condições de trabalho. Nada mais equivocado, preconceituoso e reducionista. Por essas e outras é que ser professor parece ter ficado, muitas vezes, como opção a quem não consegue aprovação no vestibular em cursos percebidos como “de ponta”.
A valorização do professor, especialmente no nível fundamental e médio, passa por um conjunto de medidas, inclusive pelo estabelecimento e pagamento de um piso salarial à altura da categoria. Por isso é inaceitável observar docentes sendo publicamente achincalhados por governantes torpes, corruptos e descomprometidos com a educação em todos os níveis. São muitos os prefeitos e governadores que sequer pagam o piso salarial da categoria e, ainda por cima, reivindicam em juízo o direito de seguirem na ilegalidade. De igual forma, também é de se lamentar que professores precisem paralisar suas atividades para, em nome de uma causa justa, saírem às ruas para reivindicar algo que deveria ser unanimidade na sociedade brasileira: a defesa do ensino público, gratuito e de qualidade, juntamente com salários mais dignos aos profissionais da educação. Paralisar as atividades de ensino é uma decisão difícil e denota, com efeito, um claro posicionamento político da categoria em defesa de causas relevantes para o país, as quais extrapolam a reivindicação da reposição de perdas salariais.
E ainda por cima, docentes têm sido vítimas de violência praticada por alunos, pais e agentes do próprio Estado nacional. Muitos chegam a enfrentar tropas policiais aqui e acolá, sendo publicamente espancados, presos e humilhados. Usar policiais contra professores é sinal de brutalidade, covardia e selvageria de governos pseudodemocráticos, mergulhados em esquemas de corrupção dos mais sórdidos possíveis, como tem sido visto em grande parte do país. Enquanto alguns têm as mãos sujas de sangue, outros seguem apenas com as mãos sujas de giz.
Para finalizar, pergunto a você, leitor, se já não passou da hora de todos nós, brasileiros, sairmos às ruas em apoio à luta dos professores e por uma educação pública melhor? Afinal de contas, de que vale pagarmos tantos impostos e não termos à disposição um ensino público, gratuito e de qualidade em todos os níveis e à altura de um país que desponta entre as maiores economias do planeta? Convido-lhe a refletir sobre isso e a ter uma postura ativa em defesa da educação e dos professores.
*Professor da Universidade Federal de Pelotas (RS) e bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq