Cidadãos conscientes e globais, preparados para encarar os desafios da sociedade e transformar o mundo em um lugar mais justo, criativo e igualitário. Essa deveria ser a qualidade primordial dos nossos jovens e é por isso que as habilidades socioemocionais estão entre as dez competências determinadas pela Base Nacional Comum Curricular, que estabelece um conjunto de diretrizes de aprendizagem comuns para todos os alunos do país. Sem deixar de contemplar as diferenças regionais, o novo modelo, que está em análise pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), propõe um passo rumo à igualdade e unificação do ensino, norteando professores para o desenvolvimento das competências exigidas e estabelecendo o conteúdo mínimo a ser garantido em comum a todas as escolas.

Em tempo de tantas mudanças na sociedade, a escola muitas vezes ainda se encontra em descompasso, não acompanhando a nova realidade das crianças e jovens. Soma-se a isso a diversidade socioeconômica do país e temos um ambiente que parece ser a antítese daquilo que almejamos alcançar em um futuro próximo. Infelizmente, o Brasil ainda se encontra entre os piores indicativos dos estudos globais sobre a Educação Básica.

A escola precisa se reinventar e se modernizar para atender às novas demandas dos dias de hoje. Assegurar que todos possam de fato aprender e vincular a aprendizagem a uma habilidade ou propósito, estimulando a aplicação prática do conhecimento em projetos dinâmicos e significativos em seus contextos. A Base Nacional Comum Curricular orienta o desenvolvimento de dez competências, cognitivas e socioemocionais, não apenas para igualar o nível de aprendizagem, mas também para construir jovens cidadãos responsáveis, éticos, autônomos, inventivos, abertos às diferenças e conscientes a respeito de seu papel na sociedade. Por isso, um dos desafios que enfrentaremos será o investimento em formação humana, para que os professores tenham condições de estabelecer a ponte para uma educação mais profunda e humanitária.

Com aulas menos expositivas e mais participativas, o estímulo às competências socioemocionais será essencial para equilibrar emoções, pensamentos e sentimentos, incentivando o exercício do diálogo, da empatia, do autoconhecimento e do pensamento crítico. É permitir que os jovens possam ver florescer as suas habilidades. Para isso, é preciso levar melhores oportunidades a todas as regiões do país, mesmo as que enfrentam limitações estruturais, não apenas com o objetivo de transformar as instalações e materiais didáticos das escolas, mas também para que os estudantes se desenvolvam em sua plenitude e os pais possam participar mais ativamente da vida escolar dos filhos.

Esse conjunto de mudanças pretende garantir aos jovens uma educação de qualidade para o século XXI. Para que a reforma do ensino brasileiro tenha sucesso, é necessário que as escolas públicas e privadas se transformem em espaços de encantamento, tanto para os alunos como para os professores. Afinal, guardamos na memória de longo prazo aquilo que tem significado, que é revestido de emoção, vivência e relações com a vida. É preciso investir no professor, no fortalecimento da sua paixão por ensinar, para que desta forma ele transforme a sua prática pedagógica em momentos profundos de crescimento.

Não será um caminho fácil levar essa nova visão educacional às salas de aula, algo que requer o trabalho conjunto entre a iniciativa privada, os municípios e estados. Também não será simples superar os obstáculos históricos que dificultam a concretização de um ensino digno a todos. Por mais complexo que possa parecer, caso as ações que estão sendo planejadas sejam efetivamente implementadas, estaremos mais próximos da transformação da Educação Básica no Brasil.

* Mestre em Psicologia do Desenvolvimento Humano e Processos de Ensino e Aprendizagem