O juiz da Vara Única do Fórum da Comarca de Rosana, Ricargo Baréa Borges, decretou nesta quarta-feira (8) a prisão preventiva de três homens acusados de integrar uma organização criminosa que roubava caminhões nos estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. As investigações fazem parte da Operação Carga Leve, realizada pela Polícia Civil e pelo Ministério Público Estadual (MPE). O nome foi escolhido porque os criminosos escolhiam apenas caminhões sem carga para os roubos. Todos os envolvidos já estão presos no Estado do Mato Grosso do Sul em decorrência de investigações de outros crimes.
As investigações identificaram dois roubos praticados neste ano pelos criminosos em Rosana. O primeiro deles foi no dia 7 de fevereiro, quando renderam um motorista em um acesso da Rodovia Arlindo Béttio (SP-613), no distrito de Porto Primavera, e levaram R$ 1.850 em dinheiro, um telefone celular e o caminhão de uma empresa de transportes. Já o segundo foi no dia 31 de março, também em Porto Primavera, em outra via que faz a ligação com a SP-613, onde os assaltantes renderam o motorista e levaram o caminhão que lhe pertencia, R$ 700 e um celular.
No primeiro caso, o motorista seguia de Maringá (PR) para Maracaju (MS). No outro, a vítima dirigia seu próprio veículo de Maringá (PR) para Rio Brilhante (MS).
Segundo as investigações, os bandidos agiam armados e utilizavam uma caminhonete GM S10, que funcionava como “batedora”, em apoio aos crimes.
As investigações identificaram que, ao parar em um posto de combustíveis ou restaurante, um dos integrantes da organização criminosa supostamente se colocava no espaço entre a carreta e o cavalo. Ao pegar a estrada, em certo ponto previamente definido, desligava os cabos dos freios, o que travava as rodas, obrigando a vítima a parar o caminhão.
Ao sair do caminhão para verificar o ocorrido, a vítima era surpreendida pelo membro da organização criminosa, que lhe exibia uma arma de fogo e anunciava o assalto. A vítima era algemada no caminhão e esse mesmo indivíduo que lhe havia abordado fazia o engate da mangueira do freio, demonstrando que sabia qual era o problema. Em seguida, dava partida no caminhão e dirigia até o local onde um segundo integrante assumia a direção do veículo.
Neste momento, a vítima era retirada do caminhão e colocada em outro veículo, uma caminhonete de cor prata, que servia de “batedora” para a prática do roubo e era dirigida por um terceiro indivíduo.
Depois, a vítima era levada para um local onde tinha sua liberdade cerceada e só era solta após o caminhão ser levado até o Paraguai.
De acordo com a denúncia oferecida à Justiça pelo MPE contra os envolvidos, a organização criminosa atuava da seguinte maneira:
- Escolhido o caminhão alvo do roubo, geralmente parado em postos de combustíveis ao longo das rodovias, um dos integrantes da organização criminosa desengatava a mangueira de ar/freio do baú transportado pelo veículo.
- Os denunciados, a bordo da caminhonete S-10, seguiam o caminhão até o momento em que o motorista tinha de parar em razão da trava dos freios.
- Quando o motorista saía do caminhão, ele era abordado por um dos denunciados, que o fazia de refém e o mantinha com a liberdade cerceada até que o caminhão chegasse à cidade de Ponta Porã (MS).
- De Ponta Porã (MS), o caminhão era levado para o Paraguai, para ser revendido ou desmontado e ter suas peças comercializadas naquele país, para outras pessoas, ainda não identificadas, que já estavam esperando o produto do roubo e que, por isso, também integravam a organização criminosa.
Paraguai
Um dos homens que tiveram a prisão preventiva decretada pelo juiz de Rosana foi identificado pelas investigações como o responsável pela função de levar os caminhões até Ponta Porã (MS) e entregá-los no Paraguai, para o comprador e grande líder da organização criminosa.
Segundo o MPE, além dos dois assaltos narrados na denúncia, já ficou cabalmente demonstrado que a mesma organização criminosa é responsável por roubos ocorridos nas cidades de Teodoro Sampaio, Euclides da Cunha Paulista, Rosana, Nova Londrina (PR), Nova Andradina (MS), Ponta Porã (MS) e Dourados (MS), entre outras.
“Desta forma, de tudo o quanto apurado, não há duvidar da existência da organização criminosa composta pelos acusados, e por outros indivíduos ainda não identificados, eis que conta com mais de quatro pessoas, de forma estruturalmente ordenada e com divisão de tarefas, com o objetivo de obter lucro em razão da prática do crime de roubo, crime cuja pena máxima é maior que quatro anos, sendo certo que os crimes são cometidos com emprego de arma de fogo, os produtos e proveitos da infração penal se destinam para o exterior, país Paraguai, e todos elementos informativos constantes nos autos evidenciam a transnacionalidade da organização”, salientou o promotor de Justiça Renato Queiroz de Lima, que opinou a favor da prisão preventiva dos envolvidos requerida pela Polícia Civil, através do delegado Ramon Euclides Guarnieri Pedrão.
“Face à gravidade em concreto dos atos supostamente praticados, ou seja, diversos roubos qualificados, além de uma estrutura que, ao que tudo indica, se enquadra como organização criminosa, está demonstrado concretamente o prejuízo e perigo para toda a sociedade, motivo pelo qual de rigor que os denunciados permaneçam encarcerados”, determinou o juiz Ricargo Baréa Borges.