Uma festa cristã, introduzida para substituir a festa pagã do deus Sol, comemorada em Roma no solstício de inverno, quando o sol tendo chegado ao ponto máximo de seu distanciamento do hemisfério norte, iniciava seu retorno. O Sol haveria de trazer a primavera, quando as árvores desabrocham em flores e em frutos e os pássaros voltam a enfeitar com a música de seus cantos a terra, que toma ares de paraíso. Era uma festa pagã, sendo o dia 25 de dezembro o “Dies natalisInvictiSolis” (Dia do natal do Sol Invicto). Foi o papa Júlio (337-352) quem determinou a comemoração do nascimento de Cristo neste dia. É que com o nascimento de Cristo entrava no longo inverno de nossa história o Sol da Justiça. Sua luz começava a brilhar e seu calor começava a aquecer o coração da humanidade, discretamente. 
  
Houve pastores pobres que viram brilhar sobre o recanto onde pastoreavam uma luz vinda do céu e ouviram cânticos iluminados de alegria em misteriosas vozes que, encantadoras, caiam suaves sobre eles do infinito. Assim narra o evangelista Lucas: “Havia naquela região pastores que passavam a noite nos campos, tomando conta do rebanho. Um anjo do Senhor lhes apareceu, e a glória do Senhor os envolveu de luz. Os pastores ficaram com muito medo. 
  
O anjo então lhes disse: Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor! E isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido, envolto em faixas e deitado numa manjedoura”. De repente, juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste cantando a Deus: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz aos homens por Ele amados!” (8,14)”
  
E os pastores foram adorar o menino, alegria do céu, agora na terra. Sábios – Magos – vindos de longe, sedentos que eram de uma verdade maior do que aquela que a astronomia lhes oferecia, mas que se insinuava em suas inteligências e em seus corações quando pesquisavam, extasiados, as estrelas que brilhavam no firmamento, ofereceram ao menino pobre, nascido no escondimento de uma pequena gruta, seus presentes que lhe reconheciam a realeza, a majestade divina e sua plena humanidade. 
  
O evangelista Mateus narra assim: “E a estrela que tinham visto no Oriente ia à frente deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino. Ao observarem a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra. Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, passando por outro caminho.(2,9-12).” 
  
Paulo Davies, pesquisador do Instituto de Astronomia de Cambridge, afirmou: “pode parecer estranho, porém, em minha opinião, a ciência oferece um caminho mais seguro para Deus que a religião”. É deste cientista também a afirmação: “Não posso conceber um autêntico cientista sem essa fé profunda. A situação pode ser expressa por uma imagem: a ciência sem religião é aleijada, a religião sem ciência é cega.” 
  
Pobre ou rico, letrado ou iletrado, o ser humano carrega consigo um mistério que só se torna claro à luz do mistério de Deus. E que verdade estupenda esta: “o Verbo se fez carne e habitou entre nós”. O mistério de Deus e o mistério do ser humano se entrelaçam na pessoa de Jesus. A vida tem sentido. Deus existe sim e caminha conosco. Um Deus criança, inocente, solidário, crucificado e, entretanto, vivo, em permanente comunicação conosco, enchendo de luz e de sentido nossa existência, transfigurando nossas dores e transformando a morte em passagem para a plenitude da vida. Encontrar Deus é motivo de grande alegria. Natal sem esse encontro é festa falsa, vazia. que evapora. É fogo fátuo. A todos desejo um Natal pleno de Luz, da Luz do Verbo que ilumina e traz vida. 
  
  
*Arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba