No meu tempo de colégio – é isso mesmo, leitor, e pode dizer: ”mas isso foi há muuuuito tempo” – o ensino de História era levado a sério. Dizem que nós éramos obrigados a decorar datas e outros detalhes sem muita importância, do que discordo veementemente. As datas nos ajudavam a situar os personagens históricos em seu tempo, o que é muito útil, digam o que quiserem.  Além do detalhe das datas, havia professores que gostavam de ilustrar as aulas com informações curiosas que, a bem da verdade, pouco nos serviriam na vida, mas que mal não faziam, pois como o leitor bem sabe, o saber não ocupa espaço. Por exemplo, que a mãe de Napoleão Bonaparte, dona Letízia, ao ver o filho com toda aquela pompa se coroar Imperador dos franceses, fez o seguinte comentário, no francês estropiado que falava: “Pourvu que ça dure” (contanto que isso dure).

Essas curiosidades ficaram em minha memória e às vezes, por um motivo ou outro, lembro da aula e do professor que nos encantava com essas pequenas notas. Como agora, quando li que José Dirceu anda militando para que petistas se mobilizem “em defesa de Lula.”

Lula entregou Dirceu aos leões e nunca foi visitá-lo em sua jaula. Foi um dos maiores amigos da onça de que se tem notícia. Mas, no entanto, aí está Dirceu terçando armas em defesa de seu ex-chefe. O que foi que esse fato me trouxe de volta das aulas de história no colégio? Vou contar: a França teve um político que fez nome como orador brilhante, mago das palavras, grande orientador de seus seguidores. Seu nome era Léon Gambetta (1838/1882). Sua morte, ainda muito jovem, chocou o país. De tal modo a inteligência de Gambetta impressionou seus contemporâneos, que resolveram examinar seu cérebro para concluir porque ele era como era. Para surpresa de muitos seu cérebro era pequeno, pesava muito pouco, ninguém daria nada por ele.

Não sei, nem procurei saber, qual a conclusão dos examinadores do cérebro de Gambetta. Mas tive uma ideia: quando José Dirceu vier a falecer, daqui uns 50 anos, seria bom que examinassem seu cérebro para que todos pudessem saber o que move um homem a ser tão leal a outro, mesmo em situações bastante adversas.

Volto ao Gambetta que nos deixou uma boa frase. A luta mais forte na França de seu tempo era a que envolvia os departamentos da Alsácia e da Lorena. Luta fratricida e sem quartel. Dela, disse Gambetta: “ Y penser toujours, n’en parler jamais” (Pensar nisso sempre, mas falar sobre isso,  jamais”.

Será que é esse mesmo tipo de pensamento que move Dirceu em relação a Lula? “Pensar nele sempre, mas falar nele jamais?”.

Ou será que Dirceu está militando em causa própria e só quem não viu isso fui eu? Ou ele está preocupado com o provável desmoronamento do PT? Tudo é possível nesse ninho de jararacas em que o Lula nos envolveu…

*Professora, colunista do jornal O Globo