O mais recente relatório do IBGE referente aos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) constatou o que de certa maneira todos já sabiam: há um verdadeiro abismo entre os ricos e os pobres no Brasil. Os ricos ganham 36 vezes mais do que os pobres. E não só isso, cerca de metade dos trabalhadores recebem por mês 15% a menos que o salário mínimo. Outra informação relevante: entre os 5% de brasileiros com menores salários, a renda média é de R$ 73,00 mensais, são 4,445 milhões de brasileiros nesta condição. Valor extremamente baixo. O IBGE ainda aponta que cerca de 10 milhões de brasileiros têm renda per capita de R$ 47,00 mensais. Vivem abaixo da linha da pobreza. Também foi calculado o índice de Gini que mede concentração ou desconcentração de renda e este avançou 1,2% nos três primeiros meses deste ano, se comparado ao mesmo período do ano passado, ficando em 0,52. Vale esclarecer que este índice indica que quanto mais próximo de 1 for seu resultado mais concentrada será a renda e quanto mais perto de zero menos concentrada é a renda. Este índice já foi pior no Brasil e ele é desigual dependendo das regiões (norte e nordeste há mais concentração), mas o que vale é o crescimento de 1,2%. Algo deve ser feito para reversão do quadro. Outro fator a considerar é que esta pesquisa leva em conta somente quem mora em domicílios e o que o Brasil observou nos últimos anos, fruto da recessão deixada de herança pelo governo do PT, é que muitas pessoas passaram a morar na rua, de favor. Ao não considerar este contingente, a conclusão é que a coisa é mais grave ainda. A retomada do crescimento da economia pode ser considerada somente uma pré-condição para que tamanha desigualdade seja equacionada. Se o foco for somente no crescimento econômico as desigualdades podem até se acentuar, como ocorreu, por exemplo, em períodos de elevados crescimento como os da década de 1970. O que precisamos é uma politica de desenvolvimento econômico, este sim, capaz de atacar as causas das desigualdades sociais e tornar o Brasil um País mais justo. Enquanto a classe política, com raras exceções, gasta tempo e energia visando seu próprio bem, a sociedade não consegue ter uma vida digna, por sinal, um dos princípios da ordem econômica brasileira. Em última instância estes políticos sem senso coletivo não cumprem a legislação vigente. É evidente que não devemos somente contar com o setor público para resolver os problemas sociais, a sociedade como um todo precisa se comprometer com este propósito, mas o setor público é e deve ser o indutor no equacionamento dos problemas sociais, pois a ele cabe estabelecer políticas compensatórias e redistributivas, promovendo a igualdade entre as pessoas. Precisamos mais do que um País forte, precisamos de uma Nação forte e isso passa necessariamente por uma sociedade sem os abismos sociais existentes no Brasil. É um longo caminho, mas precisa ser trilhado. Os dados do IBGE ensejam boas e importantes reflexões sobre que País queremos para nós. Vale pensar sobre isso. *Economista, articulista do JC (Bauru) |