Em cada roda de conversa, no trabalho, na escola ou na mesa de bar, você encontra várias pessoas com propostas infalíveis para acabar com a corrupção no Brasil; equilibrar as contas públicas e, em paralelo, promover o desenvolvimento do país e a ampliação da oferta de empregos com carteira assinada; zerar a fila de espera por cirurgias eletivas nos hospitais do SUS ou ampliar os horários e melhorar os itinerários dos ônibus da cidade sem reduzir gratuidades nem aumentar as tarifas. Segundo esses “mestres”, tais questões, de facílima resolução, somente persistem porque eles ainda não foram ouvidos.

Examinando-se a vida pessoal desses autointitulados experts descobre-se que muitos estão inadimplentes, deixam a louça suja amontoada na pia da cozinha, chegam sempre atrasados à escola ou ao trabalho e sequer acordam com tempo suficiente para arrumar a própria cama antes de saírem de casa. Têm receitas para melhorar o outro, o país e o mundo, mas não conseguem administrar a própria vida.

Pensando em tais inconsistências, William McRaven, almirante das forças especiais da Marinha dos Estados Unidos elaborou a aula inaugural que fora chamado a ministrar aos alunos da graduação da Universidade do Texas. O texto viralizou nas redes sociais e deu origem a um livro, há pouco traduzido para o português, que lidera as vendas de obras de não ficção naquele país.

Numa síntese muito elementar, o almirante diz coisas bem simples. Aquele que se dispõe a mudar o mundo deve começar introduzindo, em sua rotina, práticas como a de arrumar a própria cama.

A proposta faz sentido. Ao mal lavado faltam condições para criticar o sujo. O sujeito que não mantém em dia o cartão de crédito não tem credibilidade para definir medidas de equilíbrio para o orçamento público. Quem baba ódio jamais motivará o outro a agir com amor. Como no ensinamento do Evangelho, antes de conclamar o irmão a tirar o cisco do olho, há que se verificar se não temos uma trave tapando o nosso.

 

*Articulista Jornal Cruzeiro do Sul -Sorocaba