As cifras dão a dimensão da urgência sanitária. Em 2014, a poluição do ar causou a morte prematura, ou seja, antes dos 65 anos, de 520.400 pessoas. Isso, dentro dos quarenta e um países do continente europeu. Desses, 487.600 dentro da União Europeia. Esse o balanço macabro do relatório 2017 sobre a qualidade do ar, publicado em 11 de outubro pela Agência Europeia do Meio Ambiente – AEE.

        Os poluentes mais tóxicos são as partículas finas, de diâmetro inferior a 1,5 micrometros. O dióxido de azoto e o ozônio vêm na sequência. A Alemanha é o país de ar mais poluído, seguida da Itália e do Reino Unido. Depois a Polônia e a França.

        Para chegar a esse resultado, no intuito de apurar o impacto da poluição sobre a saúde dos europeus, a agência cruzou dados demográficos e epidemiológicos com as medidas da concentração de poluentes em mais de 1.500 estações.

        Ocorre que os países não obedecem às normas antipoluição em pleno vigor. Há processos em curso pela Corte de Justiça da União Europeia mas, até o momento, apenas a Bulgária foi condenada.

        O trânsito é o grande poluidor nas grandes cidades. Paris sofre com a emissão de gases poluentes por causa de um tráfego imenso. No interior, o aquecimento das casas no inverno com carvão ou madeira é a causa da má qualidade do ar.

        E o Brasil?

        A troca insensata da ferrovia pelo automóvel, companheiro inafastável do ser humano egoísta, fez com que todas as cidades se convertessem num campo de batalha. Aqui, as mortes do trânsito obscurecem aquelas derivadas da poluição atmosférica. Nosso caso deve ser mais grave, porque a gasolina utilizada no País não tem a mesma qualidade exigida no Primeiro Mundo. E o Diesel é um combustível dos mais nefastos para a saúde humana.

        Promete-se fazer voltar o bonde, veículo não poluidor. E poucas vozes sensatas propõem a urgente adoção de matrizes energéticas não poluentes. Dentre elas, a do Professor José Goldemberg, respeitada autoridade no tema. Entretanto, não há vontade política para coibir o uso do carro, que é ainda um grande sonho para todas as pessoas, principalmente para aquelas que nem sempre têm como sustentá-lo.

        Quando a má qualidade do ar obrigar as pessoas a usarem máscaras e a portarem tubos de oxigênio, talvez se comece a pensar seriamente que poluição atmosférica mata. E o faz insidiosamente, silenciosamente, sem que nos demos conta de seu malefício. 

José Renato Nalini

secretário da Educação do Estado de São Paulo