A médica Evangelina Vormittag é conhecida como Doutora Poluição. É especialista em Patologia Clínica e Microbiologia pela USP e em Gestão de Sustentabilidade pela FGV. Idealizou e preside o Instituto Saúde e Sustentabilidade. Está preocupada com a poluição paulistana.
São Paulo tem um nível de poluição duas vezes e meia maior do que a OMS – Organização Mundial da Saúde – recomenda. Há evidente associação do ar poluído e o câncer, principalmente o de pulmão. Mas também o de bexiga, o de mama e do tecido sanguíneo, que se conhece como leucemia e linfoma. O ar tóxico é o líder ambiental dentre as causas de morte e enfermidade. Arritmia, infarto e derrame derivam do ar poluído. 5 mil pessoas morrem a cada ano em São Paulo por essas causas. 8 mil na região metropolitana e 17 mil no Estado inteiro.
Adverte a Doutora Poluição que a contaminação do ar mata mais do que aids, câncer de próstata e acidente de trânsito. Só que existe uma resistência imensa a debelar as causas da poluição. Em Paris, quando a poluição chegou a 100 microgramas, proibiu-se o tráfego no centro, disponibilizou-se entrada grátis no metrô e as aulas foram suspensas. Em São Paulo, o nível de alerta da poluição é de 240 microgramas de material particulado por metro cúbico de ar em 24 horas. Mais do que o dobro daquilo que Paris observa. Ou seja: estamos no quarto mundo!
Será que temos pulmões três vezes mais resistentes do que o dos parisienses? O veneno está no diesel, na gasolina utilizada no Brasil, que é muito inferior àquela de que se serve o Primeiro Mundo. Há evidente irracionalidade quando se verifica o número de ônibus percorrendo a mesma trilha do metrô. Se já existe metrô, por que fazer os ônibus nas linhas que podem ser atendidas pelo transporte coletivo menos poluente?
Não faltam leis. Como a 14.933/2009, do município da capital. Até 2018, o transporte público sobre rodas deverá ter 100% de combustíveis limpos. Quem acredita que isso será cumprido?
Se o diesel fosse substituído por matriz energética limpa – elétrica, biodiesel ou híbrido com as duas alternativas – seriam salvas 13 mil vidas até 2050 e se evitaria a perda de R$ 3,8 bilhões à capital. Se os níveis atuais forem mantidos, haverá mais 178 mil mortes até 2050 a um custo de R$ 54 bilhões. Mas isso parece não interessar senão a alguns poucos, os considerados exóticos, ecochatos ou fundamentalistas ecológicos.
Secretário da Educação do Estado de São Paulo