Na minha infância, festejava-se a meia-noite de primeiro de janeiro como ano-bom. Ouvia-se gente, em família e fora de casa, desejando uns aos outros “bom princípio de ano”. Há tempos, só se fala em “réveillon”. Ontem, primava o adjetivo bom, desejo de um ano feliz; agora, seria “acordemos”, do verbo francês reveiller.
Neste início de 2018, vem muito a propósito esse imperativo verbal “acordemos”. Abre-se à nossa frente uma estrada de doze meses incertos. Serão de novo pedregulhados com problemas ou calçados por todas as esperanças? Certamente, não será uma linha reta. Tomara que, embora em ziguezague, nos leve a cumprir o lema da nossa bandeira: ORDEM e PROGRESSO.
Pela árdua caminhada do ano findo, estamos todos a suspirar por dias melhores, neste 2018. Para tanto, seria desejável que a nação priorize a ORDEM desse binômio oficial. Não a ordem imposta autoritariamente, aquela ordem com silêncio de cemitério, mas a ordem autêntica, construída pela melhor disposição das pessoas e das coisas, em vista do bem comum. Que haja harmonia das funções e relações internas e externas do Estado, ou seja, que prepondere a ordem política. E, sobretudo, que a população consiga o funcionamento correto dos serviços básicos a que tem direito, como educação, saúde e segurança. É a ordem pública.
Acordemos, então, para pôr ordem no País. Esse acordar significa arrumar a própria vida pessoal, seguindo regras e obedecendo a leis, é privilegiar os direitos da família, é dinamizar as associações, é depurar os partidos, é fazer articulações, na rua e no espaço digital, em prol de boas causas. O experiente Santo Agostinho, autor de um “Diálogo sobre a Ordem”, já doutrinava: “Serva ordinem et ordo servabit te” (Observa a ordem e a ordem te guardará”).
Para aplicar essa norma sábia à realidade brasileira, precisamos, indignados com a corrupção sistêmica, começar por uma faxina política de tamanho nacional, a partir de Brasília. Que as eleições de outubro, com nossos votos, passem lá um rodo bem robusto, capaz de puxar toda a sujeira ajuntada por senadores e deputados federais, estejam ou não associados ao poder executivo, premiados ou não com generosas leniências do poder judiciário.
Esse voto desinfetante e desinfeccionante representará quase a última oportunidade para salvar a nossa democracia, ameaçada de morte lenta pelo populismo (governo preocupado apenas em agradar a massa), pelo fisiologismo (política feita só por interesses dos governantes e dos seus amigos) e pelo autoritarismo (a imposição da ordem pela ditadura).
Teremos até outubro um bom tempo para pensar e definir o nosso voto, baseados não em promessas de candidato nem em sua posição nas pesquisas. Será uma temporada de muita notícia falsa ou tendenciosa, esparramada pelas redes sociais, com tudo armado para ganhar e enganar eleitores. Mas eleitor inteligente não age pelo facebook, antes procura conhecer o passado e o presente dos que lhe pedem o voto e analisa o que propõem e o que pretendem fazer se eleitos.
O jornalismo brasileiro gasta muito mais tempo especulando sobre quem será candidato ou tem chances de ganhar, do que sobre o que os candidatos propõem e pretendem fazer se eleitos.
Se é proverbial que um homem prevenido vale por dois, um eleitor esclarecido valerá, neste ano, por milhares que jogam fora sua cidadania não votando ou votando mal. Lembremos outro provérbio: “Cria um corvo e ele te arrancará o olho”.
Mestre em Filosofia e Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma*