No fundo do balde, a gota de água estala. No fundo do poço, ecoa. Na plantação, colore. No copo, ilumina e rebrilha. O Brasil, que se ergueu à beira do mar e em volta dos rios, também escreveu histórias de sede, de muita sede. Graciliano Ramos, em 1938, chamou atenção comVidas Secas e tudo o que simbolicamente a água, ou a falta dela, pode significar.
Apesar de um país rico em água, milhares de brasileiros ainda sofrem com a falta dela e com a seca severa
Na literatura ou na vida real, eis um dos maiores contrastes: um país de muita sede e de muita água. Oito décadas depois, as linhas escritas por Graciliano Ramos são o fio condutor para asérie de reportagens especiais que a EBC publica no ano em que o Brasil recebe o Fórum Mundial da Água.
Nas reportagens, são contadas as histórias de quem sofre com a falta de água e as avaliações de gestores e pesquisadores do tema.
Confira as duas primeiras reportagens especiais:
>> Acesse aqui a reportagem completa – Vidas Secas: catástrofes atravessaram os séculos
Os infelizes estão nas primeiras palavras de Vidas Secas e não são apenas personagens do olhar de Graciliano Ramos, em meio ao sertão, no ano de 1938. Oito décadas depois da descrição dura de um dos gênios da literatura brasileira, o caminho tem outras curvas de dor e de luta em busca de um mesmo bem: a água.
Se o espaçar do tempo é remontado para presente e futuro, as páginas podem ser reconstruídas para muito antes da obra clássica do século 20, com narrativas de pestes, de doença, de sede e de fome. Fato é que não há novidade nesse percurso. Nada acontece pela primeira vez na imensa planície avermelhada brasileira, principalmente a nordestina. Registros de secas brasileiras refazem uma viagem no mínimo ao século 16.
>> Acesse aqui a reposrtagem completa – Seca Excepcional: o retrato do sofrimento pela falta de água
Em um município no qual até órgãos públicos sofrem com a escassez de água, a população de Boa Viagem (CE) é a principal atingida pela seca. Moradora de uma comunidade rural chamada Riacho dos Porcos, a produtora Francisca Rodrigues Amorim, 39 anos, teve que mudar a previsão de plantação por causa da falta de chuvas. “Quando chove a gente planta milho e feijão. Mas como está na seca, a gente acaba plantando coisas menores como acerola”, diz.
A produtora é uma das brasileiras que vivem em um cenário de “seca excepcional” ou S4, como define a Agência Nacional de Águas (ANA), por intermédio de um sistema chamado Monitor das Secas. A excepcionalidade é caracterizada pela situação de emergência na cidade, falta de água sistemática em reservatórios, córregos e poços, perdas de plantações e seca generalizadas nas pastagens. Palavras e siglas não conseguem dar a real dimensão do sofrimento causado pela seca, mas são importantes no alerta para políticas públicas e providências.