Depois dos acidentes em alegorias das escolas Paraíso do Tuiuti e Unidos da Tijuca no carnaval de 2017, os cuidados com a segurança dos carros alegóricos do grupo especial avançaram, mas ainda estão incompletos. A conclusão é de integrantes do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio de Janeiro (Crea-RJ), que intensificaram o trabalho de fiscalização na Cidade do Samba desde os acidentes no ano passado. Na Cidade do Samba, estão localizados os chamados barracões das escolas do Grupo Especial, considerado a elite do carnaval carioca. Este ano são 13 escolas instaladas no local.
No acidente com o carro alegórico da Escola Paraíso do Tuiuti, uma pessoa morreu no dia 26 de fevereiro do ano passado, após o veículo perder a direção, fazendo 20 vítimas. No caso da Unidos da Tijuca, o teto do carro alegórico onde sambavam dezenas de pessoas desabou, fazendo 12 feridos.
Engenheiros do Crea relatam preocupação das escolas de samba do Rio com a segurança dos desfiles
“O que a gente garante é que, hoje, a Liesa tem profissionais em todas as áreas: engenharia mecânica, elétrica, civil e de segurança do trabalho, então a Liesa assumiu um compromisso com a gente e está sendo posto em prática nos barracões”, disse o presidente do Crea-RJ, Luiz Cosenza. O engenheiro lembra que um carro alegórico é multidisciplinar, porque envolve várias modalidades da engenharia.
A avaliação dos engenheiros é que o tempo foi pouco para analisar todos os aspectos envolvidos na estrutura complexa de um carro alegórico. A norma que as escolas de samba terão que seguir para a montagem das alegorias ainda está em estudo pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Como ainda não está concluída, o Crea-RJ preparou um cronograma de avaliações para dar mais segurança aos carros e evitar novos acidentes no carnaval de 2018.
Na área mecânica, a preocupação, segundo o conselheiro Carlos Tourinho, foi com os chassis de caminhões ou de ônibus, utilizados para fazer a base das alegorias. Para ampliar o tamanho de cada uma e atender ao planejado pelos carnavalescos os chassis sofrem extensões. Se não tiver um estudo sobre as alterações, há riscos de acidente. Além disso, a base da alegoria recebe toda a carga de componentes e de adereços e enfeites e esse é um dos aspectos avaliados
Segundo o coordenador da Câmara de Mecânica do Crea-RJ, Marco Antônio Barbosa, a primeira visita dos fiscais foi a três agremiações, em abril do ano passado, quando anotaram erros no desenvolvimento das alegorias. Depois disso, houve mais visitas, mas o ritmo de montagem só se acelerou no segundo semestre, após a definição do enredo e dos desenhos elaborados pelos carnavalescos.
Além disso, informou Barbosa, houve a fiscalização do Ministério Público do Trabalho, que provocou a interdição dos galpões nos meses de outubro e novembro, atrasando o trabalho dos profissionais nas alegorias. A fiscalização foi para verificar as condições de segurança dos empregados no barracão, após a morte de um eletricista na São Clemente.
O agente de fiscalização Mário Roberto Gomes disse que a vistoria do Crea-RJ afirmou que o trabalho avança conforme o carro vai ficando pronto. A avaliação final é se a alegoria tem um sistema de ignifugação adequado, ou seja, se recebeu tratamento para aumentar a resistência ao fogo. Esta etapa, segundo ele, será feita na semana que vem, quando os carnavalescos consideram que os carros alegóricos estão prontos para os desfiles na Marques de Sapucaí.
Outros grupos
O engenheiro Tourinho alertou que, após os acidentes em 2017, houve muita preocupação com os carros da elite do carnaval, que, em geral, é formada por escolas com mais recursos. Por isso, acredita que os problemas devem ser ainda maiores nas agremiações da Série A, que também desfilam no Sambódromo na sexta e sábado de carnaval, e que têm orçamentos mais modestos. “Temos que pensar bem, no seguinte, não temos só os carros da Liesa [Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, que coordena o grupo especial]. Há várias escolas de grupo 1, grupo 2, grupo 21 e, naturalmente, é preciso fazer alguma coisa”, afirmou.
Tourinho sugeriu que o cronograma de vistorias este ano inclua essas agremiações, além de avançar em outros aspectos de avaliação, como a forma em que os profissionais fazem as soldas das ferragens das alegorias. Segundo ele, esse é mais um motivo de preocupação, para que não haja quebras nas estruturas que possam causar acidentes. Para 2018, o CREA já planejou vistoria para acompanhar o desmonte das alegorias, o que deve começar a ocorrer a partir de abril.
Tuiuti
Durante a entrevista na sede do Crea-RJ, o engenheiro Marco Antônio Barbosa não soube informar sobre o andamento do processo da comissão de ética da instituição que apura a responsabilidade do engenheiro Edson Marcos Gaspar de Andrade no acidente do carro da Escola Paraíso do Tuiuti. No carnaval passado, ele cuidava de nove agremiações. O Crea-RJ, ficou de divulgar a informação ainda hoje.
O diretor de carnaval da Tuiuti, André Gonçalves, afirmou à Agência Brasil, que para o carnaval deste ano, a escola contratou engenheiros diferentes para cada modalidade avaliada nas vistorias. “Não é porque, antes do acidente, nós não tivéssemos cuidado não. Sempre teve um cuidado amparado pelo mecânico, toda a assistência de quem entende do carro. Ali não tinha nenhum amador. Todos que cuidam dos carros são profissionais. As pessoas tocam muito no acidente, mas o acidente foi uma fatalidade”, contou.
Na Unidos da Tijuca, a perícia comprovou que a escola não teve responsabilidade pelo afundamento do teto de uma das alegorias. No ano passado, o laudo apontou que a falha foi da empresa contratada para desenvolver o equipamento hidráulico que dava movimento ao carro alegórico.