Historicamente, nunca faltou coragem ao bandeirante. Pois em pleno século XXI, a grei paulista não deixa de mostrar ousadia. Sabe que a 4ª Revolução Industrial provocou profunda mutação na vida e no convívio. Não desconhece que a receita de uma administração pública pautada em valores arcaicos já não convence. Portanto, recorre à experiência de quem arrostou dificuldades praticamente intransponíveis, para alavancar novos experimentos.
Foi assim que o Governo Paulista instituiu o Programa Pitch Gov-SP, em 2017. Convocou empresas nascentes com a finalidade de permitir a realização de testes com soluções inovadoras para enfrentar desafios postos à gestão estatal. 254 empresas se apresentaram ao chamamento público e 16 delas foram selecionadas para apresentar suas soluções.
A Educação, o mais urgente e relevante dos temas enfrentados por todas as Nações, lançou um repto: “Como potencializar as atividades de reforço e recuperação nas escolas, através do uso de tecnologia? ”. A Secretaria de Educação de São Paulo, uma das maiores organizações do planeta, adquiriu consciência de que a circuitaria neuronal das novas gerações é digital. Daí o interesse em acelerar o processo de aprendizado, oferecendo aos estudantes opções mais atraentes, calcadas no interesse crescente pelas TICs, as tecnologias de informação e comunicação, hoje presentes em todos os ambientes.
Dentre as 71 empresas que sugeriram soluções, duas delas foram consideradas aptas a desenvolver suas propostas: Matific e MGov. A primeira desenvolveu um repositório de jogos interativos, planilhas e conjuntos de problemas, com o intuito de apoiar o ensino e aprendizagem de Matemática dos anos iniciais. Jogos com características pedagógicas únicas: um episódio típico apresenta um ambiente visual e “mãos na massa” e desafia o aluno a responder perguntas ou a executar tarefas dentro do ambiente simulado. Tudo consoante o material pedagógico e o currículo oficial do Estado de São Paulo.
A MGov oferece plataforma que permite envio de mensagens para os pais, com sugestões de atividades e ações que intensificam o engajamento da família com a Educação da prole. Facilita a comunicação com os responsáveis, aproxima os pais da escola e atende ao comando constitucional do artigo 205 do Pacto Federativo, que erigiu a Educação em direito de todos, mas em dever do Estado e da Família, em colaboração com a sociedade.
Mas não é só. A “Estante Mágica” é uma plataforma virtual que transforma o material produzido em aula em livros digitais e físicos. Dispõe de programas pedagógicos a serem utilizados por docentes e alunos, também chamados a produzir tais livros.
O “Mira Educação” é um aplicativo para dispositivos móveis – Android e IOS, desenvolvido para escolas públicas com o objetivo de acompanhar métricas ou indicativos relevantes para a gestão escolar. Com isso aperfeiçoa-se o acompanhamento de frequência de alunos, conteúdo, habilidades e metodologias desenvolvidas em sala de aula. Foca ainda o comportamento social do alunado, facilita a gestão da sala de aula e possibilita o uso offline ou pela rede, sem consumo do pacote de dados do professor. É plenamente integrável com os sistemas já existentes da gestão escolar para ser interface de uso direto e mais facilitado.
Abre-se uma perspectiva de entrosamento entre os jovens que descobriram a realidade virtual e nela enxergaram oportunidade de investimento em atividades ainda hoje não oferecidas pelo sistema educacional, cuja estrutura não propicia antecipação de tendências, mas atua de forma reativa e mais lenta. O chamamento da iniciativa privada, com a juventude talentosa, pioneira e empreendedora que se dedica à criação intensa de startups, é a esperança de que a escola paulista, na rota já conhecida de desbravar caminhos, muito produzirá para oferecer ao Brasil um futuro compatível com a dimensão dos nossos sonhos.
*Secretário da Educação do Estado de São Paulo