Março é o mês das águas. Não só pela expressão eternizada por Tom Jobim, mas porque é o mês em que se comemora o Dia Mundial da Água, no dia 22, data instituída pela Organização das Nações Unidas, em 1992. Para nós, brasileiros, é quase sempre o mês com maior quantidade de chuvas, atingindo quase todo o território nacional, dado que é o fim do verão. Essa época é comumente usada para reforçar a conscientização do uso da água e, pelo visto, 2018 será um ano onde essa consciência se fará extremante necessária.
Ao menos até o fim de fevereiro, a chuva esteve abaixo do normal, e apesar de ainda não haver avisos sobre racionamento, a população já está atenta. Entre 2014 e 2016, tivemos um período histórico de crise hídrica no estado de São Paulo, o que reforçou ainda mais a ideia de que o Brasil, país de imensos rios e afluentes, a despeito disso, constantemente sofre com secas em diversas regiões. A solução, no entanto, já vem sendo aplicada. Mostra de que a crise hídrica ensinou algo à população. O uso racional da água já é uma realidade cada vez maior, sobretudo quando falamos de prédios, sejam eles públicos ou privados.
No setor público, vemos cada vez mais municípios aderindo a programas como o PURA – Programa de Uso Racional da Água. Criado pela Sabesp, em 1996, o PURA é direcionado a entidades públicas da administração direta (Secretarias de Estado, prefeituras e unidades do Governo Federal), dando incentivos fiscais a essas entidades conforme o cumprimento de metas de consumo de água. O PURA se baseia em orientação – sobretudo de servidores públicos e alunos das redes escolares – e na adequação de prédios a projetos hídricos que evitem desperdício e promovam soluções como o uso inteligente de água da chuva para irrigação de jardins, hortas e reuso na limpeza.
Somente esse projeto contemplou 600 escolas estaduais até o fim de 2017. A previsão para 2018 são mais 380. Esses prédios chegam a economizar 7 milhões de litros de água por mês. Atualmente, estão cadastrados na Grande São Paulo, 2.935 imóveis com o consumo de água monitorado. Em dezembro de 2016, o programa foi responsável por uma economia de aproximadamente 380 milhões de litros de água, quantia equivalente ao consumo mensal da população do porte de Arujá, na Grande São Paulo, que tem 85 mil habitantes.
Em setembro do ano passado, a Prefeitura de São José adotou o PURA com a meta de reduzir em até 25% o valor das contas de água, gerando uma economia anual nos cofres públicos de até R$ 2,1 milhões. Em fevereiro desse ano, Diadema seguiu o exemplo, economizando pelo menos 10% e podendo chegar a 35% por mês na conta de água. A proposta é reverter as economias em investimentos para a cidade.
São valores altos a serem considerados, mas eles não se restringem ao setor público. Nos edifícios privados, energia e água representam 20% dos gastos prediais mensais. E o impacto não vem só no bolso, pois prédios, residenciais ou comerciais, sofrem muito quando há falta de água. É por isso que, para a maioria dos prédios, se tornou comum ostentar um certificado LEED. O Leadership in Energy and Environmental Design é uma certificação para construções sustentáveis, concebida pela ONG americana U.S. Green Building Council (USGBC), de acordo com os critérios de racionalização de recursos (energia, água, etc.) atendidos por um edifício.
Isso mostra que tanto setor público quanto privado estão cada vez mais são adeptos de um uso melhor da água. Um exemplo são edifícios ícones de São Paulo, como o World Trade Center, no Morumbi, a Torre Matarazzo e o Hospital Sírio Libanês, todos referências no reaproveitamento de água da chuva e detentores do LEED.
O mais interessante é que o cuidado com a água tem diversas vantagens agregadas. Nas escolas, por exemplo, os sistemas de captação e reutilização de água da chuva auxiliam a educação ambiental, sobretudo quando se fala de jardins e hortas. No setor privado, se ganha com menor taxa de manutenção, e se incentiva uma economia de beleza sustentável, o que favorece o bem estar sem desperdiçar um bem tão valioso.
Segundo estudos, até 70% do consumo de água nas residências e 60% nos pontos comerciais ocorre nas áreas externas. Boa parte desse percentual está nos jardins. Um moderno sistema de irrigação contempla equipamentos de maior eficiência, o que resulta num menor consumo de água. A irrigação terá distribuição adequada da água de acordo com as necessidades de cada planta ou hortaliça. Um projeto paisagístico bem elaborado costuma agrupar as plantas que mais necessitam de água, separando-as das demais, a fim de fazer uma distribuição inteligente. Para auxiliar, pode-se fazer uma captação de água de chuva e armazenamento. A tecnologia envolvida nesse tipo de equipamento garante projetos com alta durabilidade, baixa manutenção e um acabamento perfeito, já que os sistemas ficam enterrados no solo.
Usar a tecnologia a favor da economia financeira e hídrica é a grande proposta para 2018. A preocupação com o futuro do meio ambiente já é parte do dia a dia do brasileiro. A consciência de um consumo sustentável é algo que precisa se enraizar na nossa cultura cada vez mais, para que o peso do pensamento ambiental ganhe mais força. É importante pensar no que se ganha financeiramente, mas é preciso valorizar muito mais o que se ganha em termos de bem estar ambiental. Aí sim, podemos comemorar tranquilos do Dia Mundial da Água.
* Engenheiro civil, consultor internacional com foco em construções verdes e diretor geral da empresa Regatec.