Mesmo sendo maioria nas universidades, as mulheres ainda enfrentam dificuldades para ter o trabalho reconhecido. Exemplo dessa realidade é a quantidade de prêmios para cientistas homens em comparação às cientistas mulheres. Se até o mundo acadêmico é um ambiente majoritariamente masculino, títulos e publicações obtidas pelas mulheres cientistas devem ser sim muito comemorados.
Em Tupi Paulista, a família da pesquisadora Priscila Thihara Rodrigues comemorou muito a publicação de seu trabalho sobre a malária na respeitada revista científica Nature no final do mês de janeiro de 2018, (http://bit.ly/2IvmKU5).
“Durante o mestrado e doutorado, desenvolvi pesquisas cujo enfoque foi a malária. A pesquisa publicada na Revista Nature é resultado do meu projeto de doutorado, desenvolvido na Universidade de São Paulo (USP). Durante os quatros anos e meio do projeto, me dediquei a estudar a rota migratória dos parasitos causares da malária humana até as Américas. Uma vez que enviamos o artigo científico para uma revista, assinamos uma termo de “fidelidade”, ou seja, o mesmo resultado não pode ser publicado em nenhuma outra revista científica, logo o trabalho completo foi publicado apenas na Nature Scientific Reports. No entanto, participei de diversos congresso nacionais e internacionais para apresentar e discutir os meus dados com outros pesquisares da área”, revelou a pesquisadora.
Ela fez questão de frisar que a publicação de um trabalho ou uma pesquisa científica requer muita dedicação e esforço de uma equipe. “Sem dúvidas junto de mim estiveram várias pessoas envolvidas no desenvolvimento e na análise dos dados. Esta publicação em especial, gerou um reconhecimento internacional, uma vez que houve a colaboração de vários pesquisadores renomados de diferentes instituições do mundo. Este trabalho me proporcionou um grande crescimento profissional e intelectual, no qual compartilhei dúvidas, conhecimento e amizade com a pesquisadora Ingrid Felger, vinculada a Swiss Tropical & Public Health Institute, Basiléia, Suíça e com o pesquisador Daniel Hartl, da University of Harvard, Boston, EUA”, contou ressaltando a importância do trabalho em equipe.
Priscila explicou que a malária é uma doença endêmica presente nas regiões tropicais e subtropicais do planeta, onde se distribui de forma heterogênea e é responsável pelas principais causas de morbidade e mortalidade no mundo. É causada por protozoários e transmitida a seus hospedeiros vertebrados (homem) através da picada do mosquito do gênero Anopheles. Os principais sintomas da doença são episódios de febre, calafrios, dores de cabeça e anemia uma vez que a presença do parasito leva a destruição das hemácias.
Segundo a pesquisadora, no Brasil, a doença está presente principalmente na Amazônia Legal, constituída pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e parte dos estados do Mato Grosso e Maranhão. “Atualmente, nossa equipe realiza um estudo no estado do Acre, com o intuito de controlar a malária neste Estado. Apesar de não ser considerada uma área endêmica, casos autóctones da doença são diagnosticados em região de Mata Atlântica, envolvendo os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Um achado importante nos nossos estudos sugere que a malária nesta região é uma zoonose, pois é capaz de infectar tanto os humanos quanto os macacos, ou seja, assim como na febre amarela, os macacos infectados são capazes de transmitir a doença aos seres humanos”, contou.
Ainda sobre os resultados apontados no trabalho e sua importância, Priscila considerou que a pesquisa forneceindícios importantes relacionados a estrutura populacional da doença, que descrevem e quantificam como a diversidade genética global está organizada, além de identificar antígenos candidatos a vacina e genes associados a resistência a medicamentos. Além disso, tais informações são importantes para detectar casos importados de malária e para verificar a eficácia de medidas de controle local da doença.
Realizada com a publicação do artigo, a pesquisadora lembrou-se do árduo caminho e da compreensão da família para a realização dos objetivos. “Muitas vezes foi necessário deixar de vivenciar momentos importantes com a família e amigos. Mas, em nenhum momento fui desamparada ou até mesmo mal interpretada pelos meus familiares, muito pelo contrário, eles sempre estiveram presentes em minhas conquistas e apoiando as minhas escolhas”, confidenciou orgulhosa dos familiares.
Além dos sacrifícios exigidos para o sucesso acadêmico tanto dos homens pesquisadores como das mulheres pesquisadoras, as mulheres ainda enfrentam mais dificuldades para a ascensão, o que na opinião de Priscila está mudando. “No meu ponto de vista, a mulher esta cada vez mais conquistando o seu espaço no mundo científico, mas infelizmente, ainda há o predomínio de homens neste ambiente intelectual. As situações de machismo e preconceito presentes entre os pesquisadores do mundo inteiro são tão frequentes que no ano de 2014, foi criado no RESUFF, Rede Francófona de Mulheres Responsáveis pelo Ensino Superior, apoiada por várias agencias de fomento, incluindo algumas no Brasil. Um dos objetivos desta agência é aumentar a participação do sexo feminino em cargos de liderança no meio acadêmico. O cenário já foi pior, hoje, as mulheres estão conquistando o seu espaço e mostrando a sua competência profissional, mas infelizmente os homens é que costumam ser citados em prêmios Nobel ou em pesquisa de ponta. Hoje, uma das poucas premiações voltadas para mulheres cientistas no Brasil é promovida pela Fundação L’Oréal, em parceria com a Unesco e com a Academia Brasileira de Ciências”, pontuou.
CURRÍCULO – Atualmente Priscila, que é doutora em Ciências pelo Departamento de Parasitologia do Instituo de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), com doutorado sanduíche na Universität Basel, no Instituto de Medicina Tropical (Swiss Tropical & Public Health Institute), Basiléia, Suíça e na University of Harvard, Boston, EUA, realiza o pós-doutorado no Instituto de Ciências Biomédicas da USP.