Ao voltar atrás na própria decisão de marcar pênalti para o Palmeiras contra o Corinthians na decisão do estadual de São Paulo, o árbitro Marcelo Aparecido Ribeiro de Souza alterou muito mais do que o curso do jogo. Houve consequências na Federação Paulista de Futebol, no Palmeiras, nas arquibancadas do estádio onde a final foi disputada e nas ruas de São Paulo. O Corinthians levou o título nos pênaltis, depois de vencer por 1 a 0 no tempo normal.
A Federação Paulista de Futebol, depois de avaliar o lance e conversar com todos os envolvidos, avalia que a decisão de Marcelo Aparecido foi correta – por entender que não houve pênalti de Ralf em Dudu. A entidade, em nota oficial, defendeu o árbitro.
– A decisão da arbitragem, de anular o pênalti que havia sido marcado equivocadamente, foi correta – diz o texto.
A orientação da FPF é para que os árbitros tomem decisões colegiadas, consultando seus auxiliares. É assim desde o ano passado, quando o árbitro Thiago Duarte Peixoto expulsou o jogador errado – também num clássico entre Corinthians e Palmeiras. Naquela ocasião, o árbitro não ouviu ninguém. A ideia da FPF é que decisões assim não se repitam.
Nada disso importou para o Palmeiras. O presidente Maurício Galiotte e o diretor de futebol Alexandre Mattos tiraram os jogadores de campo após a decisão por pênaltis. Um jogador do Palmeiras já havia informado a um representante da FPF que receberiam as medalhas de prata – mas a entrada de Galiotte e Mattos no gramado mudou os planos. As medalhas de prata serão enviadas pela Federação ao clube nesta semana.
Nenhum jogador ou integrante da comissão técnica do Palmeiras deu entrevista após o jogo. Só Galiotte deu declarações. O dirigente deixou de lado seu habitual estilo discreto para falar grosso num pronunciamento. O dirigente classificou a situação de “uma vergonha” e chamou o campeonato de “Paulistinha”.
– Foi um campeonato manchado, jogado no lixo.
A arbitragem, em súmula, não menciona as reações dos palmeirenses à anulação do pênalti. Mas observa que objetos foram arremessados no campo. Ao deixar o estádio, Marcelo Aparecido afirmou que foi avisado pelo quarto árbitro, Adriano Miranda, do equívoco na marcação inicial.
– Foi o quarto árbitro, e inclusive está na súmula.
Rompimento
Das portas para dentro do vestiário verde, as reclamações contra a Federação Paulista e seu presidente, Reinaldo Carneiro Bastos, foram ainda mais fortes. Mais de um integrante da diretoria do Palmeiras falou em “rompimento definitivo”.
O clube vai boicotar a festa de premiação do Campeonato Paulista, que sempre ocorre no dia seguinte ao título. Oito jogadores e o técnico Roger Machado seriam premiados na festa desta segunda-feira. Assim como as medalhas de prata, os prêmios serão enviados ao clube mais tarde.
Reinaldo Carneiro Bastos é o representante do Brasil no Conselho da Conmebol. É o elo entre os clubes brasileiros e a entidade que organiza a Copa Libertadores. No ano passado, quando o Palmeiras sofreu uma emboscada do Peñarol em Montevidéu, foi Carneiro Bastos quem fez a interlocução entre Palmeiras e Conmebol. Com “rompimento” ou não, esse relacionamento vai ter que continuar existindo.
– Paulistinha? Para quem perde, é Paulistinha. Mas até a semifinal era Paulistão – disse o cartola corintiano.
Andrés Sanchez disse ainda que proibiu seus jogadores de dar volta olímpica no estádio do Palmeiras. Há dois anos os clássicos paulistas são disputados sem torcida visitante, motivo pelo qual não havia nenhum corintiano nas arquibancadas neste domingo.
Após o jogo, a sede da Federação Paulista de Futebol foi vandalizada por torcedores do Palmeiras. A estação Barra Funda do metrô, a mais próxima do estádio alviverde, também foi depredada. Dentro do estádio, profissionais de veículos de comunicação foram hostilizados. Uma lixeira foi atirada contra o espaço onde trabalhavam profissionais de rádio e imprensa escrita. Ninguém se manchucou.