Dados da Sobrac (Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas) apontam que 320 mil pessoas morrem no Brasil todos os anos de forma inesperada devido à perda de função do coração; em 2015, de acordo com o SUS (Sistema Único de Saúde), 2.457 pessoas entre 15 e 69 anos morreram no Paraná por doenças do coração.
Os médicos cardiologistas ressaltam que muitas dessas mortes podem ser prevenidas, especialmente em indivíduos abaixo dos 70 anos, por conta dos novos estilos de vida e pela falta de informação. “As pessoas ainda não se previnem, isto é, não adotam hábitos de vida saudáveis, com a prática de exercício físico, detecção precoce dos fatores de risco e tratamento adequado”, afirma o cardiologista Rodrigo Cerci, diretor científico da SPC (Sociedade Paranaense de Cardiologia).
Cerci explica que, entre as causas cardíacas da morte súbita, o infarto agudo do miocárdio é a mais frequente. Esse evento ocorre geralmente pela aterosclerose, doença caracterizada pelo acúmulo de placas de colesterol nas artérias do corpo.
Seu surgimento está ligado a uma série de fatores de risco, como a hipertensão, diabetes, colesterol alto, sedentarismo e histórico familiar. Uma vez que essas placas se formam nas artérias do coração, pode haver um entupimento que impede que o sangue passe naquele ponto, levando à falta de oxigenação dentro da musculatura cardíaca, provocando uma dor intensa e expondo o paciente ao risco caso ele não seja atendido precocemente. Essa é uma situação de infarto.
“Eu só pensava que ia morrer, porque você fica sem ação. É uma dor que começa na barriga e chega até a garganta, com a sensação de sufocamento. Aí vem o suor e o desespero”, conta a personagem de 54 anos que preferiu não se identificar.
Ele mora em Londrina com a mulher e três filhos e trabalha como operador de equipamentos. Há cerca de cinco anos, no exame periódico da empresa, descobriu que tem pressão alta. “Fui ao cardiologista, comecei a tomar remédios e o cansaço e a dor de cabeça melhoraram muito.”
Entretanto, durante as festas de fim de ano ele parou de tomar os remédios e descuidou da alimentação. Isso, somado ao sedentarismo e às faltas ao médico durante três anos, culminou no infarto. “Fui levado às pressas para ser atendido e fiquei quase uma semana no hospital. O médico disse que eu estava com duas veias entupidas”, explica. Agora, ele diz que aprendeu a não brincar com o coração. “Não adianta fugir dos remédios e do médico. Agora estou esperto. Vou maneirar no álcool e na comida porque eu não quero ter outro infarto não”, completa.
O cardiologista Antônio Nechar explica que a oclusão de uma artéria no coração pode levar a uma falha elétrica e gerar uma arritmia. “A arritmia é como uma ponta do iceberg, pois a pessoa pode ter um infarto e não ter percebido e o primeiro sintoma então, acaba sendo a morte súbita”, comenta.
Quando a pessoa sofre uma parada cardíaca, a falta de assistência próxima, como um desfibrilador portátil, reduz drasticamente as chances de sobrevivência. “A cada minuto que você perde sem uma manobra de ressuscitação, uma massagem cardíaca ou um choque para reversão do quadro, a pessoa tem 10% menos chance de sobreviver, pois essas manobras ajudam a ‘reiniciar’ o coração”, afirma o profissional.
Nessa situação, quando não há a possibilidade de usar o desfibrilador, o médico recomenda que a pessoa mais próxima do paciente verifique se ela tem pulso e respiração. Se a resposta for negativa, será preciso iniciar a massagem imediatamente. Uma indicação é colocar a vítima em uma superfície rígida, como no chão. “Utilize as duas mãos para fazer flexões em cima da caixa torácica. A ideia é dar pulso para o coração, pois ele pode ficar parado no máximo entre seis e sete minutos”, finaliza Nechar. (Micaela Orikasa/Grupo Folha)